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Se bater preço-alvo, frita; se tiver barato, compra: As lições de gestor que entregou retorno de quase 9.000% em 23 anos; veja 3 papéis

04 jul 2024, 18:00 - atualizado em 04 jul 2024, 13:12
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Saber o momento de vender as ações é tão importante quando comprar, afirma o gestor (Imagem: Reprodução)

São em momentos ruins que se descobrem os bons gestores. Afinal, quando o mercado se valoriza, é fácil lucrar. Do contrário, nem tanto. E esse parece ser o caso do gestor Octavio Magalhães, da Guepardo Investimentos, que possui mais de R$ 4,5 bilhões sob gestão e 20 mil investidores.

Um dos fundos, o Guepardo C FIC FIA, acumula valorização de 8.810,35% desde 2001, quando foi lançado. Outro fundo, o Guepardo Long Bias, sobe 3,14%, contra queda de 7% do Ibovespa (IBOV) no ano.

Magalhães, que costuma dar poucas entrevistas, foi o convidado especial do programa de aniversário de dois anos do Market Makers. Na conversa, comandada por Thiago Salomão e Matheus Soares, o gestor deu o caminho das pedras para gerar tanto retorno aos cotistas: seletividade.

Ele explica que, das quase 500 ações listadas na Bolsa, apenas 70 passam pelos filtros da gestora, que incluem entender melhor a linha de produção, a gestão e a estratégia da empresa. E dessas, a gestora não investe em mais que 14 companhias.

“O qualitativo vem antes do quantitativo. Então, primeiro, a empresa precisa passar em todos os filtros qualitativos da Guepardo, sem a gente olhar números, sem olhar valuation, explica.

O próximo passo é observar o preço e isso, segundo Magalhães, é fundamental. “A gente vai a fundo, conhecer, projetar, fazer o fluxo de caixa descontado, ver se está barato ou não. E a disciplina é para você comprar realmente o que está barato”, diz.

Em sua visão, o desconto é a margem de segurança para errar o mínimo possível nas projeções.

“Por exemplo, se eu estou projetando um câmbio ‘X’, ou um PIB ‘Y’ para aquela empresa e o PIB e o câmbio vêm um pouquinho pior do que eu projetava, isso vai mudar muito pouco o fluxo de caixa contra o tamanho do desconto que estou comprando. O pessoal fala: ‘ah, mas você não tem um economista-chefe?’ Eu não olho o macro. Para mim, pouco interessa se o câmbio será R$ 5,50, R$ 5,40, R$ 5,30 ou vai para R$ 6. Mudará muito pouco contra o tamanho do desconto que estou comprando”, destaca.

Magalhães é enfático ao dizer que descarta a ação se estiver cara, por mais que a tese da companhia seja boa. E para isso, é preciso se blindar dos ruídos e, muitas vezes, tomar decisões contra o consenso do mercado. 

“Você entra na contramão quando tem alguma coisa que fez com que os resultados e o preço daquela empresa caísse muito naquele trimestre, naquele ano, naquele semestre. E aí você aproveita para montar a posição porque você sabe que aquela empresa é líder, é vencedora, está num setor bom, tem um modelo de negócio top, tem gestão, tem estratégia, tudo funcionando. Então, você fala, esse cara que eu queria, eu só queria achar ele barato”, discorre.

Ainda segundo ele, é difícil tentar prever o ciclo do mercado e adivinhar em qual momento a ação disparará. “Se estou certo, vou comprar porque está barato. Mas quando subirá? Sei lá, só Deus sabe. Então vou comprar, carregarei aquela posição até o dia que o mercado acordar e entender que aquele negócio está barato. […] De repente, alguém descobre que ela está barata, compra e a ação sobe na tua cara do nada”.

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Por outro lado, segundo ele, de nada vale se a empresa é barata, mas possui uma gestão ruim, o que é chamado no mercado de value trap, ou armadilha de valor. “A empresa é ruim, sacana, ou faz alguma coisa de errado, que ela não vai entregar aquilo que projeta. Aquele falso desconto do valor intrínseco, aquela falsa margem de segurança que te fez comprar o ativo, no final não tem”, afirma.

Outra tática de Magalhães é não se deixar contaminar pelo “espírito animal” do mercado. O gestor diz que evita participar de eventos e grupos de investimentos. Ele também não lê relatórios e nem o que as pessoas escrevem sobre o cenário.

Tudo isso vai te atrapalhar, te contaminar. Você vai ficando meio maluco. A gente fica preso numa jaulinha, fazendo as nossas contas, sem falar com muita gente, que eu acho que é a melhor maneira.  É tampar o ouvido e desenvolver suas teses”.

Quando vender um papel?

Saber o momento de vender as ações é tão importante quando comprar, afirma o gestor. O investidor não deve ter ‘amor’ pelo papel, por mais que ele continue entregando resultados e subindo.

“Já teve empresa que ficou sete anos no portfólio. Mas o que busco é ficar o mínimo possível. Bateu o preço-justo, tchau. Frita tudo. Mas na hora que bate o preço justo, é quando está todo mundo comprando, os seus concorrentes, o gringo, todo o sell side está dando buy, está aquele frenesi”, discorre.

“Vou contra tudo e contra todos. Do mesmo jeito que quando compra, é aquele negócio que ninguém quer, é aquele negócio horroroso. Quando vende, é quando todo mundo quer”, completa. O gestor diz que em muitos momentos, depois que vende os papéis, a ação continua disparando de 10% a 20%, “mas depois é um desastre, ou seja, volta para o preço e um dia ficará barata e atrativa de novo”.

Magalhães lista ainda três momentos para vender os papéis de uma empresa:

  1. quando prefere renda fixa, para aguardar e buscar outra oportunidade;
  2. quando está 100% investido, ou seja, sem dinheiro em caixa; vender uma menos barata para comprar uma mais barata;
  3. E a terceira, e a pior, é quando erra.

“Nesse último caso, quando eu vendo a empresa porque o qualitativo é ruim, automaticamente ela foi excluída. Nunca mais invisto nessa empresa“, completa.

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Klabin é a maior tese da gestora (Imagem: LinkedIn/Klabin)

Teses

Entre os papéis em que investe, a maior posição é da Klabin (KLBN11), com 17% do fundo. Segundo o gestor, as ações na bolsa costumam variar de acordo com o preço da celulose: se o preço derrete, a ação cai junto. O mesmo vale para quando a commodity sobe.

“E não deveria ser assim. Um fluxo de caixa de longo prazo, é óbvio que você terá commodity para cima e para baixo nesses infinitos anos. Deveria trabalhar com uma commodity no meio do caminho e não picos e baixas. Mas o mercado não consegue. Vê um trimestre bom, põe na lua. Quando a commodity está baixa, consegue montar posição”, explica.

Ele lembra ainda que a empresa colocará novos projetos em funcionamento, o que aumentará o volume da produção.E agora, vai ter um crescimento de Ebitda aparecendo na companhia, pelo fato desse volume estar chegando. Com o preço, eles vão vender e faturar”, coloca.

Outro papel é a rede de shoppings Allos (ALSO3), a mais barata entre Multiplan (MULT3) e Iguatemi (IGTI11).

“A empresa está fazendo uma recompra de ação tremenda. A companhia vende shoppings periféricos com yield bons para os fundos imobiliários, e recompra a própria ação com yield maior ainda. Isso é uma maneira de alocar capital muito bacana”, argumenta.

O gestor diz ainda que o seu portfólio de shoppings sempre é considerado um patinho feio, o que não é bem assim.Quando a gente fez o nosso estudo profundo de todos os shoppings, a média contra média de tudo, ela é muito parecida com a Iguatemi“, destaca.

E, por fim, o gestor cita a Vulcabras (VULC3), fabricante de calçados e dona de marcas como Mizuno. “É outro papel líder de mercado, empresa desalavancada, não tem dívida. O Olímpicos, Mizuno e Under Armour, juntas, vendem mais tênis do que as duas maiores concorrentes somadas. Mais de 20 mil pontos de venda pelo Brasil”, discorre.

Ele diz ainda que a empresa possui “fábricas e equipamentos moderníssimos”, e um centro de logística “excelente”.

Mizuno tem a melhor nota de todos os vendedores de tênis no Reclame Aqui. Está organizada, azeitada, a linha de produção impecável, a fabricação, a distribuição, a logística, as marcas, o produto é bom, com qualidade, com tecnologia. Por que não? Dito tudo isso, ela é aprovada. Aí a questão é preço”, argumenta.

No ano, a ação cai 26%.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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