‘Se a guerra comercial se tornar negociável entre EUA e China, vamos ver muita volatilidade’, diz economista do Bradesco BBI

A economista do Bradesco BBI, Priscila Trigo, ressaltou que câmbio, juros e guerra comercial são alguns dos fatores que tornam 2025 um especialmente desafiador, marcado por grande volatilidade.
“A escalada dessa guerra comercial, a maior ruptura para acordos desde a Segunda Guerra Mundial, tem causado incertezas significativas, com aumentos de tarifas e retaliações entre países. Isso deve trazer desaceleração global, maior desemprego lá fora e menor consumo, inclusive de produtos agrícolas, como a carne vermelha”, disse.
Trigo falou em palestra que tratou do “Cenário econômico e tendências para o agro” na Tecnoshow Comigo.
A volatilidade cambial recente, impulsionada por fatores externos como a eleição de Trump, afetou particularmente moedas de países emergentes, como o real. A desvalorização cambial contribui para pressões inflacionárias no Brasil, já que muitos insumos e produtos são dolarizados, como alimentos e aço.
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A taxa Selic e o risco para o Brasil
Trigo reforça que há muita dúvida quanto aos próximos passos do Banco Central para a taxa básica de juros do Brasil, hoje em 14,25%.
“Nas nossas projeções, acreditávamos em mais duas altas da Selic em 2025, uma primeira em 50 pontos-base em maio e outro em junho, encerrando o ano em 15,25%. Após isso, o banco poderia realizar cortes para chegar a 12,25% em meados de 2026”.
No entanto, com o avanço das guerras comerciais, a economista acredita que os cortes na Selic podem ser contidos.
“Se a guerra comercial traz risco de desaceleração, traz recessão global, os países que são exportadores ou até importadores são afetados. Isso implica em menor exportação, menor atividade interna e o risco de uma desaceleração mais forte na economia brasileira, que já estava prevista por conta de uma Selic alta, cresce”, explica.
Diante dessa nova conjuntura, o Banco Central pode optar por uma última alta de juros ou até mesmo pausar o ciclo, adotando uma postura mais cautelosa e aguardando os impactos reais da guerra comercial sobre a economia. O cenário base anterior, mais agressivo, perde força, e a possibilidade de manutenção da taxa em 14,25% por mais tempo se torna mais plausível.
A possibilidade de um acordo entre EUA e China
Apesar da expectativa de colheita recorde para soja no Brasil, em torno de 170 milhões de toneladas, os preços da oleaginosa não caíram como o esperado. “Eram para os preços estarem entre R$ 10 e R$ 15, abaixo do que tem aparecido agora”.
Isso se deve, em parte, à estratégia dos produtores de reter produto e esperar melhores condições de comercialização, aliada a limitações estruturais como a baixa capacidade de estocagem.
Outro fator importante é a guerra comercial entre EUA e China, que pode gerar um redirecionamento da demanda chinesa da soja norte-americana para a brasileira, favorecendo os preços locais.
“Embora o cenário base seja de maior demanda pelo produto brasileiro, se a China e os EUA chegarem a um acordo entre eles e a China retomar a compra de soja americana daqui a 3 ou 4 meses vamos ver muita volatilidade em câmbio e preço. Não descartamos que aqueles R$ 15 acima dos preços de hoje, mas para o final do ano para soja, por exemplo, possam virar números negativos”.