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Saúde mental e trabalho: 43% dos trabalhadores brasileiros alegam estar sobrecarregados, diz pesquisa

27 jun 2022, 15:58 - atualizado em 27 jun 2022, 15:58
trabalho e saúde mental
De acordo com pesquisa, 31% dos trabalhadores sofrem pressão por resultados e metas (Imagem: Sydney Sims/Unsplash)

Pressão por resultados e metas, sobrecarga e falta reconhecimento: muitas coisas antecedem o burnout quando o assunto é saúde mental e trabalho.

Em números, 43% dos respondentes alegaram que estão com sobrecarga de trabalho como revela recente pesquisa realizada por Paul Ferreira, vice-diretor do Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas (NEOP) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP), em parceria com as empresas Talenses e Gympass.

Ferreira tem feito várias pesquisas sobre o trabalho e seus impactos. Algo que percebe ser frequente nos dados é que as pessoas estão trabalhando mais.

Brasileiros sobrecarregados no trabalho e na saúde mental

O levantamento também revelou que 31% dos entrevistados sofrem pressão por resultados e metas.

Sentir que precisa estar disponível o tempo todo (30%); falta de reconhecimento (30%); falta de empatia/apoio na liderança direta (27%) e sentir dificuldade de ter desempenho em sua plena capacidade de trabalho (22%) foram outros impactos negativos apontados na pesquisa.

A falta de comunicação com a liderança direta (17%); ter que lidar com as responsabilidades do cuidado com a casa durante a pandemia (15%); e falta de flexibilidade na jornada de trabalho (12%) também foram alternativas destacadas.

Para o vice-diretor do NEOP, “estamos trabalhando mais, mas normalmente tinha um certo entendimento que eram os executivos e altas lideranças”.

Ele complementa que “nessas pesquisas os colaboradores reportam estar trabalhando de maneira extra em maior proporção”, algo que reflete e muda a percepção sobre trabalho e sobrecarga, segundo o pesquisador.

O que mais afeta os brasileiros no trabalho

Enquanto parte do mundo, como o Reino Unido começa a implementar semanas de trabalho mais curtas, por exemplo, Ferreira destaca que essa é uma tendência de longo prazo para o caso brasileiro.

O pesquisador aponta que questões relacionadas às relações de confiança, gestão de pessoas, retrabalho, práticas de gestão e como aumentar a produtividade pautam essas mudanças.

“Trabalhar melhor não é uma questão de quanto tempo você trabalha, mas como trabalha. É redesenhar o trabalho”, pontua ele.

A pesquisa revela que outros aspectos ainda afetam a rotina dos trabalhadores, como desconforto em compartilhar seus desafios com colegas da equipe ou com a liderança (12%); distanciamento físico dos colegas (11%); sentir que seu desempenho esteja sendo julgado por conta de outras responsabilidades necessárias durante a pandemia (11%); e, por fim, falta de iniciativas de saúde mental (9%).

Outro dado preocupante aponta que, para mais de 75% das pessoas respondentes, os benefícios atuais não são suficientes, ou apenas parcialmente, para a manutenção da sua saúde mental.

Percebe-se na pesquisa o impacto de uma gestão no bem-estar das pessoas, pois os quatro principais fatores de impacto negativo estão relacionados a formas de gestão e liderança.

Benefícios de bem-estar emocional é prioridade

Ao fazer o recorte por gêneros, rever o escopo de trabalho é significativamente mais importante para o gênero feminino. Já a maior visibilidade para os benefícios de bem-estar emocional é considerado prioridade para ambos os gêneros.

A pesquisa foi realizada em janeiro deste ano, com 572 brasileiros, sendo que 90% deles estão trabalhando atualmente. Dos participantes, 55% são do sexo masculino, 44% feminino e 1% são de outro gênero não-binário.

Foi perguntado também quais e quantas estratégias que os colaboradores adotaram quando receberam algum diagnóstico de saúde mental.

A terapia foi escolhida por 82% das pessoas, ocupando o primeiro lugar dentre as opções. Mudar de emprego também foi uma opção bastante apontada, por 32%. Redução das horas de trabalho, por 24%, e até o pedido de demissão, mesmo sem ter trabalho novo, por 21%.

Em relação ao regime atual de trabalho, 50% estão trabalhando de forma híbrida, 28% estão exclusivamente de forma remota e 22% estão totalmente na versão presencial.

Baby Boomers e Geração Z: mais liberdade para errar

Ao separar os pesquisados por geração, observou-se que quanto mais sênior, maior o desejo de que as lideranças se preocupem com saúde mental.

Especificamente, a geração Baby Boomer prefere benefícios como yoga, mindfulness e de saúde física.

Os dados também apontam uma oportunidade-chave para as empresas: implementar benefícios focados no bem-estar físico e mental e melhorar a comunicação dessas iniciativas.

No recorte de gerações, 49% dos participantes são Millennials, 34% da geração Y, 10% da geração Z e 7% são Baby Boomers.

A pesquisa ainda teve como conclusão que os Baby Boomers e Geração Z relataram mais liberdade para errar, enquanto as gerações “intermediárias” (Geração X e Millennials/Geração Y) estão se sentindo menos livres para cometer erros.

O que esperar para o futuro?

O cuidado com a saúde mental de colaboradores é um assunto que começou a ser mais presente nas empresas com a pandemia da covid-19.

Hoje, com o retorno a antigas rotinas, saúde mental e trabalho entrou na seara dos debates sobre home office, flexibilização de horários, trabalho híbrido e outros, mas o pesquisador ressalva que “o futuro do trabalho muitas vezes já está acontecendo”.

Para Ferreira, os pontos mais importantes para as empresas e os trabalhadores são:

  • Relacionamento: Relacionamento em relação ao desenvolvimento tecnológico (funções criadas) e o relacionamento mais positivo com o trabalho;
  • Remuneração: Ressignificação não de ser só econômica, mas social de trabalhos com grandes impactos coletivos, porém, com baixo reconhecimento social;
  • Responsabilidade: Como as empresas tem uma responsabilidade para caminhar para proporcionar contextos para as pessoas desenvolverem o potencial, isto é, a responsabilidade da organização.

Ele identifica que, apesar das mudanças constantes, o trabalho por subsistência ainda dá a tônica para uma relação saudável com o ofício, pois há um conjunto de pessoas que precisam se requalificar ao atuarem com funções não valorizadas e precarizadas, com “tenções cada vez mais presentes para a maioria”.

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