Saques de fundos de pensão podem abalar câmbio no Chile e Peru
As duas moedas de melhor desempenho na América Latina este ano podem ser vítimas de novas iniciativas para permitir saques dos fundos de pensão em meio à pandemia.
Parlamentares do Peru e Chile discutem propostas para permitir que contribuidores retirem dinheiro de suas contas privadas pela segunda vez este ano, apesar da oposição dos governantes desses dois países.
Os bancos centrais ajudaram a suavizar o choque sobre os ativos locais quando os dois países permitiram a primeira onda de saques, porém outra rodada pode impactar mais os mercados, de acordo com estrategistas do Bank of America, incluindo Gabriel Tenorio, Lucas Martin e Jane Brauer. O impacto imediato dependeria de quais ativos são vendidos. No longo prazo, o efeito poderia ser de reputação.
“Não achamos que essas medidas sejam inócuas”, escreveram os estrategistas em nota a clientes. “Estamos preocupados com os impactos fiscais de longo prazo, a deterioração dos mercados locais e a ascensão de discursos populistas.”
O peso chileno caiu apenas 4,3% este ano, superando todas as outras moedas latino-americanas, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O sol peruano teve o segundo melhor desempenho no período, com queda de 7%.
Em uma votação separada no início desta semana, o congresso do Peru aprovou um projeto de lei determinando que o fundo estatal de aposentadoria fizesse um pagamento único de 4.300 sóis (US$ 1.199) aos contribuintes. Segundo o governo, a medida é inconstitucional.
Saques de planos de previdência “provavelmente acabarão causando problemas fiscais no futuro quando a atual geração de trabalhadores se aposentar com pensões pequenas e exigir transferências do governo”, escreveram os estrategistas do Bank of America. “Estamos cada vez mais cautelosos em relação aos ativos negociados nos mercados locais da América Latina.”
Legisladores chilenos aprovaram a primeira medida em julho, contra os desejos do governo. Não está claro se haverá apoio político ao novo projeto de lei.
O impacto imediato sobre as moedas pode depender de quais ativos serão vendidos pelos fundos de pensão nesses países, disse Brendan McKenna, estrategista da Wells Fargo Securities em Nova York.
Se a maioria dos ativos vendidos pelos fundos de pensão chilenos for denominada em dólares, a conversão para pesos pode dar impulso à moeda local, segundo ele.
Os planos de previdência no Peru são mais diversificados em termos de denominação de moeda, então a trajetória do sol seria mais incerta, na visão dele.