São Paulo está entre as cidades mais desiguais no acesso a emprego
Estudo mostra que São Paulo é a cidade mais desigual do país quando o assunto é o acesso a emprego. As chances de um brasileiro da parcela dos 10% mais ricos na capital paulista morar perto do emprego superam em mais de nove vezes as probabilidades entre os 40% mais pobres. O instituto considera empregos mais acessíveis como aqueles disponíveis a uma distância de 30 minutos de caminhada de onde o trabalhador mora.
A informação está em diagnóstico apresentado hoje pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea). O levantamento aponta que o acesso à educação, ao emprego e à saúde nas 20 maiores cidades brasileiras se dá de forma desigual quando são analisadas pessoas de diferentes faixas de renda e grupos raciais.
Pesquisa
Segundo o geógrafo do Ipea Rafael Pereira, o estudo mostra que há um padrão: pessoas brancas e de renda mais alta têm acesso a essas oportunidades e serviços mais próximos de casa.
“Seja caminhando a pé, seja de transporte público, ou de bicicleta, essas pessoas têm facilidade muito maior de acessar oportunidades de emprego, saúde e educação. Essas desigualdades variam muito entre cidades no Brasil, mas são marcantes em praticamente todas”, afirma ele, que trabalhou em parceria com o Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento.
Segundo o pesquisador, as oportunidades de emprego estão concentradas nos centros urbanos, exigindo maiores deslocamentos e provocando maiores desigualdades. A pesquisa explica que São Paulo tem uma concentração de oportunidades muito distantes entre centro e periferias.
Por outro lado, no Rio de Janeiro os 10% mais ricos têm três vezes mais empregos disponíveis a uma distância de 30 minutos de caminhada a partir de onde moram que os 40% mais pobres, o que pode estar relacionado à presença de comunidades pobres mais próximas da região central.
As desigualdades raciais também ficam claras quando os deslocamentos são analisados. Em Belo Horizonte, Curitiba e Campinas, a população branca tem uma oferta duas vezes maior de serviços de saúde de alta complexidade a uma distância a pé de até 60 minutos de suas residências que a população negra.
Rafael Pereira sugere que uma política de longo prazo que pode reduzir esse problema é o investimento em um desenvolvimento urbano que desconcentre as oportunidades, aumentando a presença de polos empregadores fora dos centros, em locais servidos por transporte público. “É saudável para as cidades distribuir melhor o centro econômico”, avalia ele.
“Nas periferias das cidades, é possível encontrar desertos de oportunidades. Têm pessoas morando ali, mas elas têm oferta muito menor de serviços públicos de educação e de saúde, e a oferta de serviço de transporte público é mais limitado”.
O geógrafo explica que a pesquisa gerou um banco de dados que está disponível para gestores públicos, pesquisadores e cidadãos interessados. Tanto a íntegra do estudo como uma plataforma digital foram publicados na internet para permitir esse acesso.
A pesquisa faz estimativas de acessibilidade a pé e de bicicleta para as vinte maiores cidades do país, e por transporte público para sete capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Porto Alegre e Curitiba.
Por outro lado, o pesquisador avalia que as políticas públicas de educação e de saúde foram mais bem sucedidas em capilarizar esses serviços. Com exceção de Brasília, a população das maiores cidades brasileiras gasta entre cinco e dez minutos de bicicleta para chegar até uma unidade de ensino médio mais próxima.