Santander vê Selic alta por mais tempo, com fiscal cada vez mais no radar
O atual cenário brasileiro aponta para uma Selic alta por mais tempo, avaliam a economista-chefe Ana Paula Vescovi e a equipe do Santander. O time mantém a projeção de 10% para a taxa básica de juros ao final de 2024, mas reconhece a existência de um viés de alta.
Entre os eventos externos, os economistas do banco citam o dólar, que vem se fortalecer frente à maioria das moedas. Apesar do noticiário internacional “relativamente calmo”, as incertezas no âmbito fiscal local pesam na dinâmica do mercado cambial, avaliam.
“Segue a expectativa por um potencial contigenciamento e pela apresentação de medidas para conter o aumento dos gastos. Porém, sinais emitidos pelo governo trouxeram incerteza quanto a estes ajustes”, dizem.
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Além disso, na semana passada, a curva doméstica de juros subiu, seguindo, justamente, as incertezas no quadro fiscal, mantendo a perspectiva de altas da Selic à frente.
“Desde 20 de junho, a ponta curta da curva (representada pelo futuro de DI com vencimento em jan-26) subiu +10 pontos base (p.b.) para 11,32%, e a ponta mais longa da curva (representada pelo futuro de DI com vencimento em jan-31) avançou +9 p.b. para 12,28%”, explicam.
Possíveis altas dos juros não estão no cenário base do Banco Central (BC), segundo Roberto Campos Neto. O BC acompanha o cenário atual e segue “vigilante”.
O presidente da autoridade monetária ressaltou, em entrevista coletiva na quinta-feira (27), que as comunicações recentes buscaram não apresentar nenhum guidance (orientação futura) para a taxa.
Manutenção da Selic
O time do Santander ressaltam que os últimos documentos divulgados pelo BC reforçam a perspectiva de manutenção da Selic por um período prolongado.
No dia 25 de junho, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) detalhou as discussões que levaram à decisão de manter os juros inalterados em 10,50%.
“O tom do documento veio em linha com o esperado; com destaque para a revisão da estimativa do juro real neutro da economia brasileira (de 4,50% para 4,75%) – valor muito próximo à nossa estimativa (4,7%) – e da reavaliação sobre o grau de ociosidade da economia doméstica, que indicou menor folga do que imaginado anteriormente”, afirmam.
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Além disso, os economistas destacam a alteração no regime de metas inflacionárias. O novo decreto diz que a meta será considerada descumprida quando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado de um ano “desviar-se por seis meses consecutivos da faixa do respectivo intervalo de tolerância”.
“A adoção de um horizonte temporal contínuo e averiguação mais frequente do cumprimento da meta reduziu algumas incertezas. Vimos a decisão como positiva, pois reforça o comprometimento do Banco Central em perseguir o cumprimento da meta em todos os períodos”, avaliam Vescovi e equipe.