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Santander Brasil acelera volta a escritório e diverge de rivais

18 ago 2020, 12:05 - atualizado em 18 ago 2020, 12:05
Santander
O presidente do banco Sergio Rial discutiu o assunto durante uma videoconferência com repórteres, acrescentando que o banco tomou medidas para um retorno seguro (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Em um país onde o número de infecções por Covid-19 aumentou em 1 milhão apenas no mês passado, um dos seus maiores bancos vem promovendo um retorno em massa ao escritório.

Cerca de 60% dos funcionários administrativos do Banco Santander Brasil estão de volta às suas mesas, enquanto os rivais mantiveram a maioria dos funcionários de escritório em casa, segundo dados divulgados pelos bancos durante os resultados trimestrais.

O Santander, que tinha 46.348 funcionários no Brasil em junho, não divulga quantos são da área administrativa ou de agências.

O presidente do banco Sergio Rial discutiu o assunto durante uma videoconferência com repórteres, acrescentando que o banco tomou medidas para um retorno seguro, incluindo a exigência de distanciamento social adequado. Nenhum funcionário que pertence a grupos de risco voltou, disse ele.

“O Santander adotou uma abordagem totalmente diferente do restante do setor bancário, que não tem pedido aos funcionários que voltem ao escritório”, disse Ivone Silva, presidente do sindicato dos bancários na região de São Paulo, Osasco e região, em uma entrevista.

Lobby lotado

Silva disse que o sindicato visitou a sede do banco em São Paulo, a Torre Santander, no início de agosto. Encontrou um saguão de entrada lotado, em que funcionários aguardavam, de máscara, elevadores operando com capacidade limitada. As longas filas eram organizadas por pontos vermelhos no chão, marcando distanciamento social.

Os elevadores não transportam mais do que cinco passageiros por vez e alguns dos funcionários tiveram que esperar meia hora para conseguir um lugar, relata ela.

O banco disse ao sindicato que vem tomando medidas para evitar condições de superlotação durante o pico da manhã e na hora do almoço, escalonando o horário dos funcionários. Os funcionários têm que agendar intervalos para almoço por meio de um sistema eletrônico e o banco transformou o “rooftop” do Teatro Santander, prédio vizinho à sede, em um restaurante.

Segundo o sindicato, cerca de 6.500 funcionários trabalham na sede de São Paulo, que abriga desde os principais executivos do banco até áreas como banco de investimentos e gestão de recursos.

Embora não tenha havido nenhum surto público do vírus no banco desde que os trabalhadores começaram a retornar, ainda há desconforto em voltar, disse o sindicato. Alguns funcionários apresentaram queixas ao sindicato sobre violações de protocolo, como trabalhadores sem máscaras conversando nos corredores.

O Santander não comentou além do que Rial já havia dito a jornalistas.

A maioria dos grandes bancos dos EUA tem afirmado a investidores que ainda é muito cedo para oferecer um cronograma detalhado para retorno ao escritório. O Citigroup disse que é provável que menos da metade da força de trabalho retorne antes que uma vacina contra o coronavírus seja desenvolvida, enquanto o Bank of America tem menos de 15% dos funcionários trabalhando em escritórios.

Mesmo em comparação com os rivais brasileiros, o Santander se destaca. O Itaú Unibanco informou que 97% de seus colaboradores da administração central, centrais de atendimento e agências digitais estão trabalhando de forma remota, com 55.000 pessoas habilitadas para home office, segundo uma apresentação de resultados. O banco anunciou na semana passada que adiará o retorno aos escritórios até janeiro.

“Não há razão para expor os funcionários a riscos se o trabalho remoto é tão eficiente”, disse o presidente do Itaú, Candido Bracher durante uma entrevista a jornalistas.

Lutas políticas

O Banco Bradesco, com sede em Osasco, mantém 94% dos funcionários da matriz e administrativos trabalhando remotamente, de acordo com um documento. Nenhuma data de retorno foi definida, disse o Bradesco.

Mais de 3,3 milhões de pessoas no Brasil foram infectadas pelo vírus, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, com mais de 108.000 mortes. A resposta da nação à doença tem sido marcada por lutas políticas e o vírus agora está se espalhando para regiões mais remotas, embora retroceda em centros urbanos populosos como São Paulo.

Alguns funcionários não tiveram a opção de trabalhar remotamente, já que as agências físicas – que respondem por uma parcela considerável da força de trabalho dos bancos – foram consideradas serviços essenciais e mantidas abertas em todo o Brasil, embora às vezes com horários restritos. Os bancos disseram que aumentaram os protocolos de limpeza e reduziram o número de pessoas nas agências. O Bradesco faz o rodízio de metade dos funcionários de suas agências a cada semana.

Rial, do Santander, disse que não espera que trabalhar remotamente se torne a nova norma depois que a pandemia diminuir.

“Não vejo isso como uma grande revolução”, disse ele durante a coletiva de imprensa sobre resultados. “Não é uma panacéia ou tão transformador quanto se imagina.”