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Safra erra previsão, confirma virada para o ciclo do boi no 3T24 e diz quando cenário pode mudar; entenda

21 nov 2024, 13:05 - atualizado em 21 nov 2024, 13:05
boi gado
(iStock.com/Phototreat)

Em janeiro de 2024, o Banco Safra projetava que o atual ciclo do boi no Brasil reverteria de uma fase de liquidação (aumento do abate de vacas) para uma fase de expansão (aumento da retenção de vacas) até o segundo trimestre.

Segundo a instituição, que acredita ter errado sua previsão, o ciclo do gado parece ter atingido seu pico no 3T24, com o abate de vacas respondendo por 36,11% do abate total, ante nossa previsão de um pico de 36% no 2T24.

“Atualmente, parece altamente provável que o ciclo do gado já tenha revertido a tendência. Já estamos observando uma disparada no preço do boi gordo, e o preço de bezerros também está começando a decolar”, apontam Ricardo Boiati e Rafael Une.

Eles dizem que o período de entressafra leva geralmente leva a um aumento nos preços nesta época do ano, e neste ano poderemos ter tido um impulso adicional da seca severa que atingiu muitas regiões do Brasil.

No entanto, quando olham para a taxa de abate de vacas (que é o principal indicador do ciclo do gado), há cada vez mais certeza de que estamos nos primeiros meses de uma fase de expansão, o que deve continuar impulsionando os preços do gado nos próximos anos, pressionando os custos dos frigoríficos.

Do lado positivo, a atual demanda global forte por proteínas (incluindo por carne bovina) deve facilitar o repasse dos custos mais elevados dos frigoríficos para os preços e atenuar potenciais impactos na margem.

As ações da Minerva Foods (BEEF3) (recomendação neutra e preço-alvo de R$ 8) são as mais expostas ao ciclo do gado brasileiro.

Queda nos abates do quarto trimestre confirma tendência

A porcentagem de vacas no abate total atingiu 36,11% no terceiro trimestre e, com base nos dados acumulados do quarto trimestre, deve ocorrer uma queda de 101 p.b. nesse percentual na comparação com o trimestre anterior.

Com isso, o 3T24 representaria o pico do abate de vacas no ciclo atual, que começou no 4T21.

“Se analisarmos os últimos quatro ciclos (incluindo o atual, do 4T21 até o momento), a variação média trimestral no abate de vacas durante uma fase de liquidação foi de 77 p.b., com um desvio padrão de 52 p.b”.

Em mais de 20 anos, a maior variação negativa na taxa de abate de vacas em uma fase de liquidação foi de 13 p.b.

Portanto, a atual variação trimestral de 101 p.b. no 4T24 está fora do limite de três desvios-padrão da média, o que significa que a continuação da fase de liquidação do ciclo atual exigiria um evento três sigma (muito raro, com uma probabilidade de 0,3%).

“Daqui para a frente, estimamos que a fase de expansão do ciclo atual terminará no 1T27, quando a taxa de abate de vacas chegará ao menor nível de 29%, embora haja um grau de confiança muito menor nessa estimativa do que no pico recente de abate de bovinos, pois ainda estamos nos estágios iniciais da fase de expansão”, explicam

Recuperação nos preços do gado e de bezerros

O preço do gado atingiu o ponto mínimo em junho e, desde então, acelerou 59% e atingiu o pico de cinco anos de R$344/arroba. O aumento sequencial de preços no 4T24 foi de 31%, ante uma média histórica de dez anos de +8% em quartos trimestres.

Mesmo pressupondo que a seca severa que atingiu o Brasil neste ano tenha tido alguma influência no aumento do preço do gado, o Safra acredita que o abate reduzido de vacas tenha sido o fator mais relevante.

“Aumentos de preços no 4T não foram tão dramáticos em anos anteriores afetados por secas severas”.

Os preços de bezerros também começaram a se recuperar fortemente, embora com algum atraso em relação ao preço do boi gordo, dizem.

O aumento nos preços de bezerros é um forte incentivo para pecuaristas aumentarem a retenção de vacas, fortalecendo o ímpeto da fase de expansão.

“Isso não significa, no entanto, que os preços aumentarão de forma constante”

Historicamente, os primeiros trimestres do ano, por exemplo, são sazonalmente mais fracos para o preço do gado.

No entanto, a sazonalidade típica não muda nossa visão de que o ciclo do gado no Brasil provavelmente reverteu o curso.

Maior preço do boi em 5 anos

Após três anos de uma longa tendência de queda, o preço do boi gordo atingiu o ponto mínimo em junho e vem se recuperando desde então.

Das mínimas de 2024 até o momento, o preço aumentou 52%, superando a faixa de cinco anos.

O abate de bovinos permaneceu na faixa superior dos últimos cinco anos, o que ocasionou um forte aumento na oferta para frigoríficos e explica em grande parte o desempenho do preço do boi gordo.

O preço do gado magro também disparou nos últimos dois meses, seguindo a tendência de preço do boi gordo.

No entanto, o Safra não descarta que haja volatilidade e sazonalidade típica, principalmente à medida que fizermos a transição do 4T para o 1T, já que os primeiros trimestres do ano são historicamente mais fracos.