Safra de laranja de SP/MG terá maior quebra desde 1988 por seca, diz Fundecitrus
A safra de laranja 2020/21 na principal região produtora do mundo, situada no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, foi estimada nesta quinta-feira em 269,36 milhões de caixas, queda de 30,36% em comparação à temporada anterior, com a seca levando à maior quebra anual desde 1988, conforme dados do Fundecitrus.
A nova previsão indica uma redução de 6% ante a última estimativa, divulgada em setembro, de 286,72 milhões de caixas de 40,8 kg.
“Em função das condições climáticas extremamente adversas, com altas temperaturas, baixa precipitação e má distribuição das chuvas, esse é um dos anos mais difíceis que a citricultura já enfrentou”, disse o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, em nota.
Ao final de outubro, a Reuters noticiou com base em avaliações de especialistas que o tempo seco e as temperaturas relativamente altas no inverno acentuariam a quebra de produção do Brasil, maior exportador global de suco de laranja.
Um cenário desfavorável para a ocorrência de chuvas já era esperado devido à possibilidade de formação do evento climático La Niña, que foi confirmado em setembro, disse o Fundecitrus.
“Mas outros fenômenos atuaram simultaneamente, e o La Niña foi muito pior do que o último, ocorrido em 2017: além de deixar o clima mais quente e mais seco, entrou em atividade mais cedo, quando apenas 30% da produção de laranja tinha sido colhida”, observou a fundação de pesquisas do setor.
À medida que o La Niña se intensificou, a chuva foi diminuindo em relação à média histórica. De maio a agosto, o volume acumulado estava 14% menor e chegou a menos 41% no acumulado de setembro a novembro.
Em todo o período, a precipitação média no cinturão foi de 337 milímetros, cerca de 150 milímetros a menos que o normal e 32% inferior à média histórica, de acordo com dados da Somar Meteorologia, citados pelo Fundecitrus.
“Os danos provocados variaram de região para região, inclusive entre os talhões de uma mesma fazenda. Nas regiões mais secas, foram observadas com maior frequência árvores com sintomas de estresse hídrico, como intenso desfolhamento, secagem de ramos e frutos pequenos, murchos e com pouca quantidade de suco”, afirmou a nota do instituto.
O tempo seco e as chuvas irregulares recentes no Brasil também têm preocupado outros setores, como produtores de café, soja, milho, entre outros.
Segundo o Fundecitrus, a quebra de safra só não foi maior porque 60% das laranjeiras produtivas ficaram menos exposta à seca: parte das variedades precoces, colhidas antes da pior fase da estiagem; laranjas Pera Rio e variedades tardias de pomares irrigados; e essas mesmas variedades nas regiões de Itapetininga e Avaré, onde as condições climáticas foram um pouco melhores.
“As condições climáticas desfavoráveis, somadas à maior concentração de frutos de segunda florada, diminuíram também o ritmo da colheita, que em novembro alcançou 58% da produção contra 74% no mesmo período no ano passado”, acrescentou.
O peso médio dos frutos foi revisado para 156 gramas, ante as 159 gramas estimadas em maio, 8% menor do que a média das últimas cinco safras.
A projeção da taxa de queda de frutos subiu de 17,3% para 21,1% na média entre todas as variedades, atingindo o maior patamar desde quando a pesquisa foi iniciada, em 2015, informou o Fundecitrus.