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Safra de algodão do Brasil terá desafios para crescer no próximo ciclo, diz Abrapa

01 abr 2022, 9:37 - atualizado em 01 abr 2022, 9:37
Algodão
“Se mantiver esses custos dos insumos e o preço do algodão, devemos recuar um pouco na área de algodão, e vai dar espaço para o milho e a soja”, afirmou Busato (Imagem: Reuters/Mohamed Abd El Ghany)

A despeito dos investimentos em qualidade e no incentivo ao consumo de algodão, a rota de crescimento da produção da pluma do Brasil provavelmente terá uma nova pausa no próximo ano devido aos maiores custos dos insumos, segundo a associação brasileira dos produtores (Abrapa).

E a safra 2022/23, que registra uma comercialização antecipada mais lenta que o habitual para a época, pode recuar em meio a preocupações com a demanda em uma economia mundial impactada pela guerra, disse o presidente da Abrapa, Júlio Busato, à Reuters.

Embora os preços do algodão na bolsa de Nova York para entrega mais próxima tenham atingido os maiores níveis em mais de dez anos recentemente, em torno 140 centavos de dólar por libra-peso, os custos cresceram cerca de 40%, limitando negócios antecipados.

“Se mantiver esses custos dos insumos e o preço do algodão, devemos recuar um pouco na área de algodão, e vai dar espaço para o milho e a soja”, afirmou Busato, lembrando que essas culturas concorrem com a pluma em Estados como o Mato Grosso.

Segundo números oficiais, o Brasil atingiu uma produção recorde de 3 milhões de toneladas na temporada 2019/20, reduziu a colheita no ciclo seguinte a 2,35 milhões de toneladas em função da pandemia de Covid-19, e agora na temporada 2021/22 está de volta mais próximo da máxima histórica.

Mas a guerra tumultuou novamente o ambiente de negócios.

“Tomara que as coisas se ajeitem, podemos recuar um pouco a produção, como fizemos na pandemia. Queríamos ir para 3 milhões de toneladas de novo (em 2022/23) e não vamos, por causa dos insumos, tomara que não caiamos para 2,5 milhões de toneladas”, disse.

Segundo Busato, o setor está preocupado ainda com o que virá adiante, temendo uma retração da economia em importantes países, que poderá afetar mais a demanda por algodão do que por outros produtos agrícolas, especialmente os alimentícios.

Na safra de 2021/22, que será colhida neste ano, a situação é confortável. Cerca de 80% da produção já está vendida, com preços médios em torno de 85 centavos de dólar, que dão boa rentabilidade, disse o dirigente.

Mas a conta não é favorável para o ano que vem. Com os custos em alta dos fertilizantes e as incertezas, os negócios estão mais lentos, e somente algo em torno de 10% de uma potencial safra já foi comercializada, segundo Busato.

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Foco na qualidade e otimismo

A momentânea dificuldade não tira o otimismo de Busato com o futuro do algodão do Brasil, que segundo ele tem uma produtividade agrícola que é o dobro da dos EUA, o maior exportador global da pluma.

“Vamos passar por isso… e em curto período de tempo o Brasil vai ser o maior exportador mundial, e em algum momento será o maior produtor mundial, vai acontecer com o algodão…”, disse ele, sem definir prazo.

Além da competência produtiva, o Brasil exporta mais de dois terços de sua produção graças a investimentos em programas de certificação e rastreabilidade, que abrangem mais de 80% da sua produção, disse o dirigente da Abrapa.

E no mercado interno, assim como no mercado externo, a indústria busca estimular o consumo destacando os atributos socioeconômicos sustentáveis do algodão brasileiro.

O setor projeta terminar 2022 com cerca de 1.200 marcas parceiras, de atuais 900, no programa Sou de Algodão, que une a cadeia produtiva, incluindo designers de moda, para incentivar o consumo da pluma, que perdeu espaço para fibras sintéticas.

Essa seria uma forma de levar o consumidor a pedir mais roupas produzidas com fibras naturais, gerando um efeito em cascata das lojas até a indústria têxtil.

A Abrapa também projeta avanços no programa Sou ABR (Algodão Brasileiro Responsável) que permite aos consumidores rastrear a origem e a sustentabilidade da matéria-prima por meio de um QR Code na roupa.

“O que vamos levar é transparência, as pessoas querem uma roupa que tenha rastreabilidade e sustentabilidade”, disse.

A partir de 2023, termina a exclusividade com a varejista Renner e a loja de roupas Reserva no programa Sou ABR, o que permitirá que quaisquer interessados do setor do comércio possam aderir ao movimento.

Os estabelecimentos interessados teriam de abrir informações de sua cadeia de fornecedores, com o sistema trabalhando em tecnologia blockchain, mas o consumidor teria a ganhar.

Para integrar o ABR, o produtor tem que cumprir 178 itens relacionados a aspectos sociais, éticos e a legislações trabalhistas e ambientais, tudo auditado de forma independente.