Sabesp (SBSP3) é privatizada por R$ 14,8 bi na maior oferta de saneamento da história; veja como ficou
A Sabesp (SBSP3) precificou sua oferta de ações em R$ 67 por papel. Trata-se do mesmo valor ofertado pela Equatorial (EQTL3), que vai se tornar a acionista de referência da companhia. A operação movimentou um total de R$ 14,8 bilhões, incluindo os R$ 6,8 bilhões pagos pela acionista de referência.
Os recursos vão para o caixa do governo de São Paulo, que desse modo deixa de exercer o controle da empresa de saneamento. O total de ações considera a oferta base de 191,7 milhões de ações e um lote suplementar de 28,8 milhões.
O preço por ação ficou bem abaixo das cotações em tela da Sabesp na última semana, em torno da casa dos R$ 80. Essa diferença ajudou a atrair uma demanda total que girou em torno de R$ 187 bilhões, com mais de 300 participantes no bookbuilding, de acordo com fontes do Broadcast.
No entanto, este número é apontado como inflado, tendo em vista que investidores pediram bem mais ações do que pretendiam comprar, já prevendo um rateio no final.
- Receba uma recomendação de investimento POR DIA direto no seu e-mail, sem enrolação. Clique AQUI para fazer parte do grupo VIP “Mercado em 5 Minutos”.
Com isso, a oferta de ações da Sabesp ficou como a maior da história brasileiro, batendo em três vezes da Petrobras (PETR4) em 2010, que atingiu R$ 61 bilhões em pedidos.
Um dos motivos para a forte procura foi a diferença em relação ao preço da cotação. A Sabesp fechou a sessão desta quinta-feira a R$ 82,04, ou seja, 18,5% abaixo dos R$ 67.
Com isso, investidores podem aproveitar para vender o papel no mercado e sair com lucro.
Ainda segundo o Broadcast, os principais compradores foram estrangeiros e fundos de investimentos de infraestrutura.
Na bolsa, a ação renovou as máximas históricas. Desde 21 de junho, quando foi definido o investidor referência, a ação acumula alta de 10%. Mas a expectativa é que as cotações reajam em queda nesta sexta-feira, ajustando-se ao preço da oferta.
A empresa já operava por economia mista: o governo de São Paulo tem cerca de 50% das ações, mas a partir de agora está formalmente privatizada.
Após a oferta, o Estado ficará com cerca de 18% do capital e a Equatorial ficará com 15% das ações. O restante será dividido entre minoritários. Além disso, o estado também terá um golden share, ou seja, o direito de vetar decisões.
De acordo com um gestor que acompanha a empresa desde 2022, a oferta ter saído em um momento ruim para o mercado, em meio à crise de confiança do Brasil, foi algo notório.
“Vemos um retorno potencial sem tamanho pelos próximos anos para a companhia por melhorias de seu Ebitda via eficiência, além de um potencial re-rating de seu múltiplo atual em torno de 0,8x para níveis do setor elétrico em torno de 1,5x”, disse ao Money Times.
Conforme o cronograma, a liquidação da oferta acontece na próxima segunda-feira (22).
Equatorial (EQTL3) é acionista de referência da Sabesp
O mercado reagiu bem à entrada da Equatorial no capital da Sabesp, com expectativa de uma boa gestão por parte da companhia.
Em relatório divulgado após o anúncio, analistas da Genial Investimentos apontaram a Equatorial como “um dos melhores executores/operadores na área de concessão de serviços públicos de todo o Brasil, o que abrilhanta em muito o nosso otimismo com o case”.
Diferente de outros processos de venda de empresas públicas, a operação foi dividida em duas etapas, sendo a primeira para definir o investidor de referência.
Um analista que conversou com o Money Times disse que a privatização proposta pelo governo, algo inédito no mercado brasileiro, foi melhor desenhada que a oferta da Eletrobras, que foi completamente diluída no mercado.
O processo da elétrica, inclusive, foi parar da Justiça. A gestão Lula contesta a composição da companhia — a União possui quase 35% das ações, porém exerce apenas 10% dos votos no conselho.
Os principais pontos da privatização da Sabesp
Por que privatizar?
O principal objetivo com a privatização é melhorar a eficiência e a capacidade de investimentos da empresa. Segundo o governo de São Paulo, com a venda, a Sabesp teria caixa para antecipar metas de universalização previstas no marco do saneamento.
O Estado de São Paulo defende ainda que a não realização da desestatização traz possibilidade real de perda de relevância para a companhia. Seguindo a trajetória de resultados das licitações no setor desde 2019, a Sabesp perderá 50% dos contratos nos próximos 15 anos (2038).
Investimentos
Aprovado em dezembro do ano passado, o plano de investimentos prevê R$ 47,4 bilhões entre 2024 e 2028, que contempla o projeto de recuperação do rio Tietê, chamado de Integra Tietê. Porém, a cifra não inclui os efeitos do processo de privatização da companhia, que também prevê ampliação da área de concessão.
Até 2060, são previstos R$ 260 milhões em investimentos, sendo R$ 68 milhões para a universalização do Estado de São Paulo até 2029. Já os índices de qualidade medirão as perdas de água na rede, a qualidade da água distribuída, vazamentos, reclamações de usuários.
Tarifas vão ficar mais caras?
No caso do reajuste, será realizado um modelo “pós-pago”, ou seja, primeiro a Sabesp realiza os investimentos e, então, serão considerados no cálculo da tarifa. Hoje, o modelo é “pré-pago” — primeiro são considerados no cálculo da tarifa e só depois são realizados os ajustes.
A expectativa do governo, inclusive, é que haja redução de até 10% nas tarifas social e vulnerável para famílias inscritas no Cadastro Único (CADÚnico) e para que tem renda familiar per capita entre R$ 218 e R$ 706 (meio salário mínimo).
Mais dividendos?
A Sabesp aprovou uma nova política de distribuição de dividendos, que passará a vigorar a partir da liquidação da oferta pública de distribuição de ações, que marcará a privatização da empresa paulista de saneamento.
Conforme o documento, o pagamento de proventos para as ações ordinárias poderá ser maior do que os 25% do lucro líquido ajustado previstos atualmente.