Sabesp: esqueça a privatização; dúvida é se haverá tempo para capitalização
Quem acompanha o cotidiano do mercado sabe que investidores e analistas acreditam e desconfiam com a mesma paixão e intensidade. Um novo exemplo dessa capacidade de dar um cavalo-de-pau nas expectativas vem da Sabesp (SBSP3).
Se, até a manhã de ontem (19), o mercado confiava piamente na sua privatização, agora, duvida até mesmo de um plano B para a companhia.
Como se sabe, o humor dos investidores azedou nesta quarta-feira, quando o governador paulista, João Doria, praticamente sepultou a esperança deles de verem a privatização da companhia de saneamento. Doria afirmou que, em vez disso, a Sabesp deverá passar por um processo de capitalização.
Neste modelo, o governo paulista criaria uma holding para agrupar as ações da empresa que detém. Em seguida, uma fatia inferior a 50% seria vendida ao mercado. O dinheiro iria para a Sabesp.
Após a declaração do governador, as ações da concessionária chegaram a despencar 10% na Bolsa, encerrando o pregão com queda de 5%. Ontem à noite, a Sabesp procurou acalmar os investidores, ao afirmar que não havia nada decidido sobre a privatização ou a capitalização.
Corrida contra o tempo
De qualquer modo, com 2020 já na reta final, o mercado questiona se Doria terá tempo até mesmo para concluir a capitalização antes do término de seu mandato. É o que expressa, com clareza, Gabriel Francisco, da XP Investimentos, no relatório que enviou aos clientes.
“Ainda que notícias apontem que um processo de privatização da Sabesp não esteja descartado e poderia ocorrer em uma etapa posterior à capitalização, a dúvida que fica é com relação ao tempo hábil para se completar ambos os processos de capitalização e privatização no atual mandato do governador, até 2022”, afirma.
O analista acrescenta que o recuo de Doria pode significar, ainda, que o governo detectou riscos de que a privatização da Sabesp pudesse ser contestada, na Justiça, pelos municípios. Assim, a XP reforçou sua recomendação neutra para os papéis, com preço-alvo de R$ 51 por ação.