Saber avaliar para tomar a decisão certa
É comum, quando iniciamos a análise de um determinado ativo, lermos no relatório de apresentação algo como “rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura”.
Essa informação pode gerar confusão e até medo no investidor novato, que se interessou pelo papel justamente porque ele apresentou, segundo os dados apresentados, uma ótima performance no último ano ou nos últimos seis meses, enfim, em um determinado período.
A dificuldade está em saber o que deve ser analisado e o peso de cada variável no desempenho da ação. E quais variáveis devem ser consideradas?
Existem algumas diretamente correlacionadas, ou seja, sua movimentação diária tende a ser afetada, assim como outras cuja correlação é pontual. Por exemplo, alguma decisão governamental que possa melhorar ou piorar as condições de negócios em determinado ramo.
Vou usar como exemplo, a Vale (VALE3), uma das mais importantes empresas do país e com um grande peso nas negociações da Bolsa.
Ora, o valor do papel desta gigante tende a variar com base no desempenho de sua gestão e solidez de seus fundamentos, mas por melhor que esteja, ela também sobre impacto da demanda de minério de ferro no mundo e de ocorrências como a de Brumadinho, que gera altíssimos custos com reparação dos danos e vultosas multas.
Mas, também há variáveis técnicas, correspondentes ao padrão de funcionamento dos mercados ao redor do mundo. Vou listar abaixo alguns pontos relevantes que o investidor deve acompanhar para ter mais assertividade em suas decisões de compra e venda. Vou manter o setor de minério como exemplo.
Minério de ferro, Vale e a bolsa brasileira
O minério de ferro é matéria-prima para a fabricação do aço, utilizado na construção de casas, em hidrelétricas, em torres de transmissão, transformadores, na fabricação de carros, na produção de eletrodomésticos e utensílios domésticos e diversas outras aplicações.
A Vale possui correlação com a commodity, já que é uma das mineradoras líderes no mercado global de minério de ferro.
A demanda dos chineses possui um alto poder de influência sobre o preço internacional do minério. O país é o maior produtor de aço do mundo e imenso consumidor da matéria-prima.
A produção mundial de aço bruto somou 1.911,9 milhões de toneladas em 2021, segundo dados da World Steel Association. Deste montante, a China foi responsável por 1.032,8 milhões de toneladas (54%). O Brasil manteve a nona posição e produziu 36 milhões de toneladas.
A cotação do minério de ferro negociado na Dalian Commoditiy Exchance (DCE) é uma importante fonte de informação para compreender o movimento da VALE3.
A DCE foi fundada em 28 de fevereiro de 1993 e é uma das cinco bolsas de futuros autorizadas pela China Securities Regulatory Commission (CSRC) para negociações dessa modalidade no país.
Atualmente, é possível negociar 21 produtos futuros e oito produtos de opções, incluindo milho, amido de milho, soja nº 1, soja nº 2, minério de ferro, polipropileno, coque metalúrgico, carvão metalúrgico; dentre outros.
Dois turnos
O minério de ferro é transacionado na bolsa de Dalian em dois turnos, o diurno e o noturno. Esse ponto é relevante para entender a precificação da mineradora brasileira no intraday.
O pregão noturno chinês vai das 21h às 23h, o que representa das 10h ao meio-dia no horário de Brasília. Já o pregão diurno ocorre das 09h às 15h, portanto, das 22h às 04h no horário oficial do Brasil.
A variação percentual do pregão noturno para o pregão diurno não zera, ou seja, a negociação inicial das 09h parte do fechamento das 23h.
Ao se deparar com a cotação do minério antes da abertura do mercado à vista da B3, é salutar ter essa informação e saber que os dois turnos já estarão encerrados na China.
Entretanto, uma parte da variação foi absorvida no pregão anterior por aqui. Do mesmo modo, às 10h ocorrerá a abertura da bolsa brasileira e, simultaneamente, começará as negociações do minério. Uma nova avaliação dos agentes financeiros iniciará.
Para facilitar o entendimento, cito dois exemplos hipotéticos: o minério de ferro encerrou o pregão noturno – o mercado brasileiro está aberto – com ganho de 6%.
Posteriormente, durante o pregão diurno, o mercado oscilou e finalizou no mesmo patamar de 6% de valorização.
Assim sendo, não houve alteração em relação à precificação na parte da noite/madrugada no Brasil. Mas ao ler essa notícia pela manhã, não sabendo do pregão em dois turnos, você pode sobreavaliar a alta.
Em outro, o minério terminou com ganho de 1% no pregão noturno e fechou com 6% de valorização no pregão diurno. Na abertura do mercado de ações por aqui tem 5% de diferença não computada. Contudo, às 10h iniciam ambas as negociações. Os futuros, por abrirem antes, podem realizar alguma precificação desse fato.
Cabe ressaltar que é uma correlação, a porcentagem total não é repassada para o ativo brasileiro e pode haver maior assimetria em certos momentos. O minério pode subir e a Vale cair e o contrário também é verdadeiro.
A commodity é negociada na DCE em remimbi — o nome oficial da moeda do país. Para encontrar a cotação em dólar, basta fazer a conversão na paridade USDCNY. O preço está próximo dos 700 iuanes neste momento e seria equivalente a 97,40 dólares a tonelada.
Esses elementos são valiosos para o correto entendimento por parte dos investidores e operadores.
A mineradora e o Ibov
A Vale conta com 15,04% de peso na composição do principal índice acionário doméstico atualmente. A companhia possui a maior participação individual e tem grande impacto sobre o Ibovespa.
Como comparativo, no presente, a Apple dispõe do maior peso no S&P 500 e na Nasdaq, 6,88% e 13,35%, respectivamente.
Em síntese, para operar o índice futuro e as ações do mercado nacional é essencial conhecer a ligação entre commodities e importantes empresas e a economia.
Abordo sobre a Vale, embora o minério de ferro também apresente correlação com as siderúrgicas. Bem como a variação do petróleo exerce influência sobre as petroleiras do país.
Correlação é diferente de causalidade, pois demonstra um grau de tendência similar, mas não existe relação de causa e efeito. Outros fatores internos e externos das corporações também devem ser considerados para análise dos seus resultados e para a avaliação da perspectiva futura dos preços dos papéis.
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