Rússia x Ucrânia: O que significa a “desnazificação” defendida por Putin
Para além da Otan e dos Estados Unidos, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que a invasão da Ucrânia se deu para “desnazificar” o país.
Segundo Putin, a invasão aconteceu porque “ele quer evitar um genocídio e proteger os russos”, por meio de uma “desmilitarização do país”.
Como aponta o The Washington Post, a retórica da luta contra o fascismo já vem desde o século passado, quando a Rússia fez “enormes sacrifícios lutando contra a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial”.
O jornal ainda afirma que “os críticos dizem que Putin está explorando o trauma da guerra e distorcendo a história para seus próprios interesses”.
Segundo o Washington Post e o Business Insider, “a declaração [de Putin] é ridícula e infundada por uma série de razões”.
Um dos principais motivos para essa crítica é o fato de o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ser um homem judeu e ter o russo como língua nativa.
Outro ponto, segundo os sites, é que não há evidências de um genocídio na Ucrânia.
“Como apontaram o Departamento de Estado dos EUA, ex-diplomatas ucranianos e especialistas em guerra de informação, Putin faz essa afirmação para ajudar em uma campanha de desinformação mais ampla com o objetivo de criar um pretexto para invadir a Ucrânia, uma nação soberana e democrática”, cita o Business Insider.
Para Putin, o Ocidente negligenciou o papel que a União Soviética teve na luta contra o nazismo e, “no rescaldo da guerra, os Estados Unidos e outras nações ocidentais formaram a aliança militar da Otan como um baluarte contra a União Soviética”, cita o Washington Post.
É por isso que, para o jornal, Putin enxerga a Otan como uma ameaça — e a participação da Ucrânia na aliança como “uma linha vermelha para a segurança russa”.
Rússia acusa Ucrânia, mas age como os nazistas?
“Quando Putin estava crescendo, a Segunda Guerra Mundial estava no centro da identidade soviética e os inimigos eram os fascistas”, disse Timothy Snyder, professor de história da Universidade de Yale, ao Washington Post. A ironia agora, para Snyder, “é que Putin parece estar travando uma guerra do jeito que os nazistas de verdade fizeram, invadindo vizinhos sob o pretexto de que suas fronteiras são irrelevantes”.
Diversas são as comparações entre Putin e Hitler. Na quinta-feira (24), o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que “se o mundo ocidental pura e simplesmente deixar que a Ucrânia caia por terra, o próximo será a Bulgária, depois os Estados bálticos, e assim sucessivamente, assim como a Alemanha hitlerista fez nos anos 30”.
O perfil da Ucrânia no Twitter, por sua vez, publicou uma charge na qual mostra Hitler fazendo carinho no rosto de Putin. “Isso não é um ‘meme’, mas a nossa e a sua realidade agora”, foi a legenda da imagem.
Na quarta-feira (23), Zelensky se posicionou em relação à afirmação de Putin sobre o nazismo no país.
“Dizem que somos nazistas, mas como pode um povo apoiar os nazistas que deram mais de 8 milhões de vidas pela vitória sobre o nazismo? Como posso ser nazista? Diga ao meu avô, que passou por toda a guerra na infantaria do Exército Soviético e morreu como coronel na Ucrânia independente.”
Michael McFaul, ex-embaixador dos EUA na Rússia, disse ao MSNBC que “Putin está puxando esse fio da história para dizer que o que você teve foi uma usurpação de poder neonazista [na Ucrânia] em 2014, quando manifestantes ucranianos derrubaram o líder apoiado pela Rússia e o novo governo pressionou para aderir à Otan”.
Mas de onde vem a acusação de que a Ucrânia é um país nazista?
Tudo começa na Segunda Guerra Mundial. McFaul afirmou que “há uma história de alguns ucranianos lutando do lado nazista… mas um grupo muito pequeno.”
Além disso, há anos existem denúncias do surgimento de grupos neonazis ucranianos na internet. Em 2019, por exemplo, ocorreu uma marcha de extrema-direita na Ucrânia que, entre outras coisas, eram contra Roma, faziam ataques desenfreados a feministas e grupos LGBT, queriam proibições de livros e uma glorificação patrocinada pelo Estado de colaboradores nazistas.