Rússia x Ucrânia: Como a guerra afeta o bolso do brasileiro? Entenda por que a comida fica mais cara
A Rússia invadiu a Ucrânia na noite desta quinta-feira (24), mas Moscou já vinha acumulando tropas nas fronteiras ucranianas desde o final do ano passado.
A guerra pode até parecer irrelevante para o Brasil. No entanto, a disputa no leste europeu tem o poder de afetar o bolso do brasileiro, com um encarecimento dos alimentos nos supermercados, devido à produção e ao transporte dos produtos.
No Brasil, o preço do frete pode subir por conta da disparada do petróleo.
Nesta quinta, a commodity subiu para mais de US$ 105 o barril pela primeira vez desde 2014.
De acordo com Alberto Azjental, professor de economia da FGV, o motivo da alta é o fato de a Rússia ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo.
Ele também diz que o primeiro impacto para o brasileiro é um avanço da inflação.
Para o economista, isso acontece devido à política de preços da Petrobras (PETR3; PETR4), que eleva o preço da gasolina e do diesel paralelamente ao avanço no mercado internacional.
Como o petróleo segue em alta, o natural é um eventual reajuste dos preços também no Brasil.
Segundo Azjental, com a valorização dos preços da gasolina e do diesel, o custo para transportar os alimentos aumenta e o montante final é repassado para o consumidor.
“Para transportar o alface tem diesel, para produzir milho tem que ter um trator, que funciona a diesel. Então, fica uma inflação ruim porque ela dissemina em tudo que é transportado. Sendo assim, a questão da energia ela pressiona sim”, diz o economista.
O pão vai ficar mais caro?
Os preços de energia dispararam, mas não são os únicos que vão atrapalhar o consumidor. Nesta manhã, os futuros de trigo subiram cerca de 6%, elevando o aumento anual para 37%.
O cereal já engata uma nova disparada recorde, após máximas de 9 anos na véspera na bolsa de Chicago, valendo US$ 9,26 o bushel.
Esta reação acontece porque a Rússia é o maior exportador mundial de trigo e, com a Ucrânia, responde por cerca de 30% da exportação mundial do cereal.
Segundo Juliana Inhasz, economista do Insper, um conflito de grandes proporções que reduz ou paralisa a produção gera grandes descompassos no mercado de trigo, gerando um desabastecimento do mercado, com oferta insuficiente para a demanda já existente.
“Esse movimento deve forçar os compradores de trigo a procurarem novos mercados para suprir sua demanda, o que pressionará ainda mais o mercado”, completa a economista.
Além disso, a disparada dos preços do trigo, base da pirâmide alimentar e presente no cotidiano dos brasileiros, prejudica os países em desenvolvimento, onde os cidadãos gastam porcentagens maiores de sua renda em alimentos.
“Devido ao aperto da oferta, os países que recebem o produto tanto da Ucrânia, quanto da Rússia precisarão se readequar às novas realidades, procurando novos produtores e fornecedores”, explica Inhasz.
Assim, esses países terão que enfrentar custos de produção maiores, o que impactará direta e indiretamente a formação dos preços e, por consequência, a inflação.
“A inflação dos desenvolvidos já está em alta, e deve acelerar mais ainda, porque há vários preços que subirão por conta do conflito, e também porque as incertezas encarecerão os importados”, completa.
O Brasil, apesar de produtor, é um dos maiores importadores de trigo do mundo, e, por isso, também sofre com a redução da oferta.
“Em especial sobre o preço do trigo, deve acontecer um encarecimento do produto no Brasil, não apenas porque haverá uma redução de produção por parte de Rússia e Ucrânia, mas porque o Brasil, sendo um grande produtor, também será, em algum momento, pressionado por conta de demandas que se realocarão”, afirma a economista.
Carne também vai ficar mais cara
Em decorrência aos solos ricos e férteis da Ucrânia, segundo maior exportador mundial de grãos, outros produtos agrícolas, como o milho e a soja, também já sentem o impacto.
Em relação à alta dessas commodities de grãos, Azjental comenta que as carnes vão ficar mais caras também, tendo em vista com a alta dos grãos, o preço das rações de gado e de porco aumentam também e todo esse preço é repassado para o consumidor.
“Tudo que deriva dessas commodities ucranianas tende a subir, mas porco e aves, como o frango, tendem a ter uma lata dos preços maior do que a carne vermelha”, diz.
Com as commodities já cotadas em níveis históricos, o conflito aumentará as pressões inflacionárias em toda a economia global.
O economista conclui que o cenário é muito incerto, conturbado e volátil.
“Essa guerra vai trazer muita volatilidade e provavelmente o bolso do brasileiro vai sofrer com tudo isso”, explica.
Oferta apertada
Na Ucrânia, a região do Mar Negro é conhecida como celeiro do mundo.
As plantações de milho se concentram no centro e no norte do país, enquanto as lavouras de trigo e cevada ficam mais ao sul e os campos de girassóis no leste, segundo dados do governo dos EUA.
Esses produtos são transportados por caminhões, trens e balsas até os portos para então serem vendidos na Ásia, África e União Europeia.
Os portos estão espalhados ao longo da costa do Mar de Azov — que tem ligação com o Mar Negro — e da costa do Mar Negro, mais a oeste.
O Azov é compartilhado pela Rússia e pela Ucrânia e a navegação foi suspensa ali, segundo publicado pela agência de notícias Tass.
Com isso, a distribuição das commodities produzidas nos países não vai para frente e reduz a oferta mundial.
Por: Bruno Andrade e Giovana Leal
*Com informações da Bloomberg