Internacional

Rússia x Ucrânia: 3ª Guerra Mundial pode acontecer? Entenda

24 fev 2022, 12:58 - atualizado em 24 fev 2022, 12:58
Tanques em Mariupol após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenar a invasão da Ucrânia
(Imagem: REUTERS/Carlos Barria)

Para o especialista em política externa e professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, Kai Enno Lehman, a invasão da Rússia à Ucrânia pode ser vista por duas perspectivas.

Se por um lado, não se esperava uma ação tão rápida e extensa, que pegou “o mundo de surpresa,” por outro, a atitude não é algo tão imprevisível quando se trata do presidente Vladimir Putin.

“Se a gente olhar o presidente Putin no longo prazo, nos últimos 20 anos, não é nenhuma surpresa [ele fazer isso]. [Teve a] Geórgia [em 2008], Armênia, a invasão da Criméia [em 2014]. Ele tem um histórico”.

O conflito armado que começou há apenas algumas horas já resultou em mais de 60 mortos, entre civis e militares, e 30 feridos, segundo informou o governo da Ucrânia.

Lehmann não vê, no entanto, a possibilidade de uma 3ª Guerra Mundial acontecer, ao menos nos mesmos moldes em que as duas grandes guerras se desenrolaram durante a primeira metade do século XX. Ao invés disso, o professor avalia o conflito pode vir a se tornar uma 2ª Guerra Fria.

“Pode ser especulação da minha parte, mas é mais provável [acontecer] uma segunda Guerra Fria. O que vai sair desse processo no final eu confesso que não tenho a mínima ideia”.

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Guerra desigual

“Em termos bélicos, não há a menor dúvida de quem vai ganhar essa guerra”, avalia Kai Enno Lehmann (Imagem: REUTERS/Carlos Barria)

Em termos de conflito, a Ucrânia tem opções “bem limitadas”, aponta o especialista. Isso porque o país invadido tem uma capacidade militar muito inferior a da Rússia. Só em gastos despedidos, o valor é quase dez vezes menor.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, chegou a anunciar na manhã de hoje que “qualquer pessoa com experiência militar” se apresente para defender o país, além de ter liberado ações armadas de civis para a defesa do território.

O professor afirma: não há dúvidas de que se trata de uma guerra, é indiscutível.

“Em termos militares, a Ucrânia vai perder. O que vai combatê-la depende quase que exclusivamente da vontade das forças russas e o que custo que a comunidade internacional consegue impor ao presidente Putin. Mas, em termos bélicos, não há a menor dúvida de quem vai ganhar essa guerra”, diz.

Para Lehmann, a comunidade internacional pode atuar em algumas frentes para reprimir o conflito, mirando, a princípio, a economia russa.

“A União Europeia (UE) poderia exigir que grandes empresas como a Shell e a BP, que têm grandes representações na Rússia dentro do setor energético, interrompam as atividades. Outra coisa, seria retirar a Rússia do sistema internacional de pagamentos. Isso pode ser feito porque atrapalharia a capacidade [do país] de conduzir negócios.”

Lehmann também destacou a possibilidade de alguns países cancelarem os vistos de quem vive e mora no país e possui investimentos por lá, como, por exemplo, no mercado imobiliário.

“Tenho minhas dúvidas do que pode ser feito de forma rápida. Mas essas ações podem fazer diferença no médio prazo na base de sustentação do Putin na Rússia”.

“É absolutamente fundamental que não só o Ocidente, mas a comunidade internacional como um todo tome ações que mandem um sinal claro de que isso é inaceitável. Sem querer ser cruel, pode ser tarde demais para a Ucrânia neste momento.”

“É fundamental que haja uma reação unida, forte (…)  para que isso não se torne ‘normal’ para qualquer líder que queira simplesmente mudar as suas fronteiras.”