Petróleo

Rússia e Opep acham inaceitável cotação atual do petróleo; novos cortes de produção virão?

01 jun 2023, 16:49 - atualizado em 01 jun 2023, 17:06
Opep+ Rússia
A Opep+ volta a se reunir neste domingo. O que esperar da reunião? (Imagem: REUTERS/Darren Whiteside)

A Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) voltam a se reunir no próximo domingo (4) em Viena, com a possibilidade de um ‘2 de Abril 2.0’ na mesa dos dirigentes.

Naquele dia, os principais membros do cartel surpreenderam os mercados ao anunciar um ‘corte-surpresa’, e voluntário, na cota de produção, de 1.65 milhão de barris por dia (bpd).

Agora, analisa o Goldman Sachs, a tendência de baixa do Brent abre espaço para que uma nova medida deste tipo seja colocada em prática. Desde o dia 2 de abril, o barri acumula perdas de 8% e é negociado atualmente a US$ 74. 

Mas este risco, embora seja considerável, não deve prevalecer na reunião do domingo. O banco de investimento projeta que a Opep+ deverá manter o curso na reunião do domingo, reservando-se a oficializar a medida voluntária, tomada pelos nove principais produtores dois meses atrás.

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Por que a Opep+ não mudará o plano

O argumento principal colocado pelo Goldman Sachs para manter de pé a decisão de abril é a vontade dos líderes da Opep+ (Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Cazaquistão, entre outros) de observar os seus efeitos no preço e nos inventários de petróleo.

“Historicamente, a Opep+ nunca recorreu a dois cortes sucessivos na produção. Principalmente, ao se considerar níveis de inventário tão baixos quanto os de hoje em países da OCDE”.

De acordo com dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), o estoque de petróleo dos países desenvolvidos do Ocidente se encontra 100 milhões de barris menor do que era no início de abril.

Em um cenário já deficitário da oferta de petróleo, o cálculo dos países da Opep+ é que os preços voltem a subir naturalmente já no próximo semestre. Assim, o grupo pouparia desgastes com os países compradores do Ocidente. 

Outro ponto importante para a decisão, arremata o Goldman Sachs, é a Rússia. Projeções de produção apontam que o país euroasiático não conseguiu colocar em prática a diminuição de 500 mil barris por dia, anunciada pelo governo russo ainda em fevereiro.

De acordo com o Wall Street Journal, esse não cumprimento tem irritado os oficiais da Arábia Saudita, que pede à contraparte russa que entre o mais rápido possível no ritmo de cortes do cartel.

A Rússia, aliás, foi um dos primeiros países do grupo expandido da Opep+ a se manifestar favorável à manutenção da estratégia de dois meses atrás. Embora o país esteja sob pesadas sanções do Ocidente, a produção do petróleo da Rússia se mantém elevados, graças ao escoamento da commodity para o mercado asiático.

A Rússia ‘desvia’ 140 milhões de barris destinados à Europa para a Ásia, após sanções. (Imagem: Sputnik/Sergey Guneev/Pool via REUTERS)

Petróleo abaixo dos US$ 80 se tornou inadmissível

No horizonte próximo, analistas do Goldman esperam que a Opep continue exercendo forte influência de preço no mercado. Para manter essa posição de poder no mercado internacional, a Opep+ tem o desafio de manter todo o bloco unido, apesar das diferentes capacidades de produção energética e interesses geopolíticos de seus membros.

Em entrevista ao Money Times, Raad Alkadiri, conselheiro sênior em energia da Eurasia International, diz que essa coesão é observada. “O mais importante da decisão de abril foi ela ter sido voluntária”.

Tal compromisso ocorre, inclusive, a despeito de desencontros regionais entre os países, como o observado entre Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (EAU), os dois principais atores do bloco.

Como explica Alkadiri, a ‘rixa pérsica’ se justifica pela pressão cada vez maior que os Emirados Árabes têm imprimido sobre os sauditas para aumentar a sua coparticipação na produção petrolífera. É através do aumento da receita com petróleo que Abu Dhabi baseia sua capacidade fiscal para diversificação da economia interna.

Mas os objetivos de fortalecimento da economia interna, com aumento da complexidade estrutural não é um objetivo só dos Emirados Árabes Unidos. A própria Arábia Saudita vem empenhando um capital enorme para ‘modernizar’ a sua matriz produtiva — o que tem sido feito, inclusive, através de incentivos ao esporte.

“Diante desse novo modelo e dos interesses domésticos, os países da Opep+ não veem mais sustentabilidade em manter os preços a US$ 66, como há 18 meses. A meta é os US$ 80 por barril”, comenta Alkadiri.

O especialista complementa: “A Opep+ também vê que as projeções para a demanda chinesa do início do ano não se cumpriram. Os cortes então acabam virando medidas de ‘precaução’ para proteger os interesses fiscais desses países”.

Neste ‘novo momento’ dos países da Opep+, que agora figuram mais afastados dos Estados Unidos, cria-se uma dinâmica previsível em que preços do barril abaixo do equilíbrio admitido pelo cartel serão sistematicamente tratados com novos cortes na produção. Mesmo que isso ‘magoe’ os países ocidentais.