Economia

Rússia e Belarus estão em “território de calote” com bilhões em dívidas, diz autoridade do Banco Mundial

09 mar 2022, 17:48 - atualizado em 09 mar 2022, 17:48
Carmen Reinhart
“Tanto a Rússia quanto Belarus estão em território de inadimplência”, disse Reinhart em entrevista (Imagem: REUTERS/Ruben Sprich/File Photo/File Photo)

A Rússia e Belarus estão próximas do calote devido às enormes sanções impostas contra suas economias pelos Estados Unidos e seus aliados durante a guerra na Ucrânia, disse à Reuters a economista-chefe do Banco Mundial, Carmen Reinhart.

A ameaça de um default da Rússia no valor de 40 bilhões de dólares em títulos externos -o que seria seu primeiro grande calote desde os anos que se seguiram à revolução bolchevique de 1917- paira sobre os mercados desde que uma série de sanções à Rússia e contramedidas de Moscou isolaram amplamente o país dos mercados financeiros globais.

“Tanto a Rússia quanto Belarus estão em território de inadimplência”, disse Reinhart em entrevista. “Eles não são classificados pelas agências como um default seletivo ainda, mas estão bem perto.”

Na terça-feira, a Fitch rebaixou a classificação soberana da Rússia em seis níveis, de “B” para “C”, o que colocou o país em território ainda mais “junk”, e disse que um calote é iminente, já que sanções e restrições comerciais minaram sua disposição de pagar a dívida.

Reinhart disse que as repercussões no setor financeiro foram limitadas até agora, mas que os riscos podem surgir se as instituições financeiras europeias estiverem mais expostas à dívida russa do que se supõe.

Investidores estrangeiros detêm cerca de metade dos títulos soberanos em moeda forte da Rússia e Moscou deve pagar 107 milhões de dólares em cupons em dois títulos em 16 de março. Empresas russas têm pouco menos de 100 bilhões de dólares em títulos internacionais em circulação.

Bancos estrangeiros têm uma exposição de pouco mais de 121 bilhões de dólares à Rússia, com grande parte concentrada em credores europeus, segundo dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês).

“Eu me preocupo com o que não vejo”, afirmou Reinhart. “As instituições financeiras são bem capitalizadas, mas os balanços são muitas vezes opacos… Há a questão dos calotes do setor privado russo. Não se pode ser complacente.”

A China também expandiu rapidamente seus empréstimos à Rússia após a anexação da Crimeia em 2014, disse ela.

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Situação Difícil da Ucrânia

Analistas dizem que a Ucrânia também precisará de alívio da dívida este ano, em consequência dos enormes gastos relacionados à guerra e de uma pesada carga de dívida no valor de 94,7 bilhões de dólares no final de 2021, embora o país tenha prometido pagar sua dívida integralmente e no prazo.

Reinhart disse ser razoável esperar que a Ucrânia busque alívio de fluxo de caixa e expressou confiança de que credores seriam receptivos, dada a situação atual. Kiev também pode perder um próximo pagamento de cupom, pelo menos durante o período de carência, sem que sua classificação de crédito sofra, disse ela.

“A Ucrânia tem e terá portas abertas devido à sua situação financeira muito difícil”, afirmou ela. “Você não é declarado inadimplente enquanto ainda estiver dentro do período de carência.”

A dívida soberana da Ucrânia inclui 1,6 bilhão de dólares devidos a credores do Clube de Paris e 4,9 bilhões de dólares a credores não pertencentes ao Clube de Paris, principalmente a China, segundo especialistas em dívida.