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Rudá Pellini: será que a Apple vai comprar bitcoin algum dia?

01 mar 2021, 12:05 - atualizado em 12 mar 2021, 14:55
Confira, neste artigo por Rudá Pellini, cofundador do Wise&Trust, por que cada vez mais empresas tradicionais estão acrescentando a criptomoeda a suas reservas (Imagem: REUTERS/Mike Segar)

Nas últimas semanas, após o anúncio da Tesla de ter comprado US$ 1,5 bilhão de seu caixa em bitcoins, começaram as especulações sobre qual seria a próxima empresa a seguir o mesmo caminho. Será que a Apple, algum dia, vai comprar bitcoins?

É fato que diversas empresas passaram a avaliar a criptomoeda como uma estratégia de diversificação e proteção de capital, procurando segurança contra uma possível desvalorização das moedas fiduciárias.

O resultado foi um grande aumento na demanda e, consequentemente, na apreciação de preço do ativo.

MicroStrategy e o Playbook para instituições

No começo de fevereiro deste ano, a MicroStrategy, uma das maiores empresas de business intelligence do mundo, realizou um evento chamado “Bitcoin para Corporações”.

O objetivo era compartilhar seus aprendizados e conclusões acerca de como fizeram para alocar mais de US$ 2 bilhões em bitcoin. O evento contou com a participação de CEOs e CFOs de mais de mil empresas.

Em agosto de 2020, a MicroStrategy se tornou a primeira empresa listada em bolsa a alocar bitcoin a suas reservas (Imagem: Twitter/Michael Saylor)

De detrator, em 2013, para um dos maiores evangelizadores de bitcoin da atualidade, Michael Saylor, CEO da MicroStrategy, vem, desde o ano passado, concedendo entrevistas, participando de podcasts e “promovendo” a tese do bitcoin em suas redes sociais.

A sua empresa foi uma das primeiras de capital aberto a alocar parte do caixa no ativo e, posteriormente, já fez mais duas rodadas de emissão de dívida para comprar mais bitcoins, levantando mais de US$ 1,6 bilhão com essa estratégia.

Seu argumento principal é que, após as injeções trilionárias de dólares na economia, o fim do padrão-dólar estaria próximo e somente um ativo digitalmente escasso poderia servir como uma reserva de valor para o futuro.

Cerca de 30% de toda a base monetária (M2) do dólar foi emitida entre março e dezembro de 2020, em um caminho que não parece ter chegado ao fim.

“A solução simples é converter parte desse dinheiro em bitcoin. Nós conseguimos, a Square conseguiu. Você verá uma avalanche de empresas nos próximos 12 meses também convertendo seus balanços em bitcoin porque é um ativo porto seguro, digital e escasso.” (Michael Saylor)

O resultado da estratégia vem funcionando muito bem para Saylor e sua empresa. Desde que a MicroStrategy alocou parte do seu caixa em BTC, o preço de suas ações valorizou cerca de 500%.

Desde o anúncio de sua primeira compra, a empresa também teve uma valorização de quase 100% dos bitcoins em seu caixa.

Outra empresa a seguir o mesmo caminho foi a processadora de pagamentos Square, fundada por Jack Dorsey, que também ocupa a cadeira de CEO do Twitter e é um grande entusiasta de bitcoin.

Em outubro de 2020, Square se tornou outra empresa a alocar em bitcoin como parte de uma estratégia de investimento (Imagem: Square)

Em outubro, a empresa havia feito uma primeira compra de US$ 50 milhões e, na semana passada, anunciou a compra de mais US$ 170 milhões, totalizando 5% de seu caixa no ativo.

Um movimento surpreendente foi o da montadora de veículos elétricos Tesla, ao anunciar, no dia 8 de fevereiro, um investimento de US$ 1,5 bilhões em bitcoin, tornando a montadora a segunda maior detentora do ativo dentre as empresas de capital aberto.

A aquisição representou cerca de 8% do caixa da empresa. Além disso, a montadora anunciou que poderá aceitar bitcoins como forma de pagamento por seus veículos.

“Esperamos começar a aceitar bitcoin como forma de pagamento por nossos produtos em um futuro próximo, sujeito às leis aplicáveis e, inicialmente, de forma limitada”, disse Tesla em um comunicado.

Esse movimento de empresas adquirindo o ativo como uma forma de fazer hedge do seu caixa é uma tendência importante e que está apenas no começo, e a Tesla não será a última grande empresa a ter bitcoin em seu balanço.

As organizações que desejam estar prontas para uma nova onda de disrupção no mercado financeiro já começaram a se preparar.

Segundo dados do site Bitcoin Treasuries, cerca de 6,43% de todos os bitcoins emitidos já estão sob a custódia de empresas e gestoras de investimentos. Quase metade está somente no Grayscale Bitcoin Trust, um fundo similar a um ETF da gestora americana Grayscale.

(Imagem: Bitcoin Treasuries)

Considerando todo esse cenário e que a própria Samsung já incluiu uma carteira nativa para armazenar criptoativos nos seus novos modelos de celular, pode ser, sim, que, em algum momento, a Apple venha a adotar um movimento semelhante.

Ainda é cedo para afirmar tal movimento mas, considerando que 48% da participação de mercado da Apple já é de millennials, que 59% dessa geração tem uma opinião positiva sobre bitcoin e 67% preferem bitcoins do que ouro, é só uma questão de tempo até esse movimento ter representatividade suficiente para impactar a estratégia da companhia.

De qualquer forma, será interessante ver um número crescente de empresas públicas adotando bitcoins como forma de diversificação de caixa.

Recentemente, o portal The Block anunciou que a Coinbase, uma das maiores corretoras cripto do mundo e a maior dos Estados Unidos, possui, entre seus clientes, outras cinco companhias que estão na lista da Fortune 500, que contém as 500 maiores corporações americanas.

O mais interessante é que essas empresas não precisam necessariamente comprar apenas bitcoins para ter exposição a este mercado.

Um exemplo são os investimentos em mineração, infraestrutura que sustenta a operação da rede Bitcoin.

A atividade requer capital intensivo e um alto consumo energético, mas ainda apresenta excelentes indicadores econômicos sob o ponto de vista de investimento.

Como gestora, aqui na Wise&Trust, investimos em operações de mineração desde 2017 e temos percebido um grande aumento de interesse no setor por parte de investidores institucionais e grandes corporações.

Esse movimento não é isolado e exclusivo de mineradoras de bitcoin e, sim um fato quando sempre comparamos o ciclo das commodities vs. o impacto nas ações das produtoras dessas commodities.

Os dados mostram que, nos ciclos de alta, quem produz, tem um upside entre três a sete vezes maior na valorização das ações do que a commodity em si.

Ainda existe a possibilidade do uso de mineração como forma de otimização de operações de energia. Vou falar mais sobre isso no próximo artigo mas, em 2020, começaram a surgir algumas negociações de M&A no setor elétrico que evidenciam essa relação.

Com empresas de energia e dos setores de petróleo e gás utilizando mineração de bitcoins como estratégia de otimização de suas operações, este ano ainda trará muitas novidades interessantes para o Bitcoin.

Estou ansioso para ver qual será a próxima empresa a anunciar sua alocação!

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