Rudá Pellini: qual a melhor forma de se expor a criptomoedas?
Depois do enorme rali de alta do bitcoin, após ultrapassar a alta histórica de US$ 20 mil de 2017, atingindo a marca de US$ 40 mil em poucas semanas, começam a surgir especulações e até recomendações de outras criptos que estariam subvalorizadas.
Mas ao olharmos, onde está a forma mais eficiente de se expor nesse mercado?
A assimetria e convexidade sempre favoreceram o bitcoin em relação a diversas outras classes de ativos, mas será que, na cotação atual, ainda podemos ter tanta vantagem assim?
Caso o bitcoin atinja a marca de US$ 200 mil neste ciclo de alta, teríamos um prêmio de mais quatro vezes ao preço de hoje. Então, a melhor alternativa seria alocar em diferentes projetos? O que estaria mais desvalorizado?
Ainda que o bitcoin tenha apresentado uma valorização de aproximadamente 302% em dólar em 2020, ether, o segundo maior criptoativo em capitalização de mercado, valorizou 469% no mesmo período.
A tese da vez é que o bitcoin e alguns ativos dessa classe serão o “safe haven” e a reserva de valor no futuro, substituindo o ouro, ao passo que as novas gerações tendem a dar preferência para criações nativamente digitais.
O próprio Ray Dalio, um dos maiores gestores de hedge funds do mundo, citou que o bitcoin poderia ser o “ouro dos millennials”. Nesse sentido, poderíamos considerar o bitcoin como uma commodity digital?
Em uma definição simplista, commodities são mercadorias e correspondem a produtos de qualidade e características uniformes, que não são diferenciados de acordo com quem os produziu ou onde foram produzidos, em que seu preço é determinado pela oferta e demanda internacional.
De fato, o bitcoin e outros criptoativos possuem características semelhantes à dessa definição, que compreende commodities como metais, minerais, combustíveis, agricultura etc.
Nessa lógica, com o aumento da demanda de investidores institucionais por essa classe de ativos, estaríamos entrando num grande ciclo de alta dessas novas commodities, e existe um fenômeno interessante sempre que esses movimentos ocorrem: a alta nas ações das produtoras desta commodity.
Vejamos um exemplo no minério de ferro que, impulsionado pela demanda dos BRICS e, majoritariamente, da China, entre 2000 e 2012, chegou a valorizar cerca de 780% na máxima.
Essa alta do minério representou um aumento de até 1.650% nas ações da Vale nos EUA (ADR) no mesmo período.
Outro exemplo é o ouro, que valorizou cerca de 170% entre 2006 e 2011, enquanto a mineradora Agnico Eagle Mines (NYSE: AEM) valorizou cerca de 256% no mesmo período.
Se olharmos para outras commodities e suas produtoras, ao longo da História, a correlação existe mas, em qualquer setor, o impacto depende mais da capacidade de gestão da companhia e eficiência para capturar esse movimento de mercado.
No mercado de criptoativos, temos as produtoras destas “commodities digitais”, que são as mineradoras.
Na prática, assim como no caso da Vale, essas empresas investem capital de forma intensiva em infraestrutura e supercomputadores para processar transações das redes descentralizadas dos criptoativos.
Como recompensa, recebem taxas de transação e o direito de emitir ativos novos e transmitir essas transações na rede.
Você já deve ter ouvido falar que a oferta máxima de bitcoins no mercado será de cerca de 21 milhões de unidades e que mais de 18,6 milhões já foram produzidas.
O fato é que só chegaremos no valor de 21 milhões de unidades próximo à década de 2140, já que a taxa de emissão é reduzida a cada quatro anos em um evento chamado “halving”.
Vejamos o caso de algumas empresas de mineração de Bitcoins que possuem ações listadas em bolsa: enquanto o bitcoin subiu 302% em dólar em 2020, a Marathon Patent Group (Nasdaq: MARA) valorizou 1.186% no mesmo ano. Já a Riot Blockchain (Nasdaq: RIOT) valorizou 2.535% em 2020.
O mais curioso no caso dessas mineradoras de Bitcoin citadas é que, se você fizer o trabalho de analisar o balanço dessas empresas, verá que seus números e indicadores operacionais são péssimos.
O mercado de mineração de cripto está passando por uma consolidação e profissionalização importantes, semelhante ao que aconteceu com o mercado de provedores de internet nos anos 1990.
Novas empresas estão surgindo, com muito mais eficiência e capacidade de crescimento sustentável.
Nesse sentido, existe a grande possibilidade de termos outras empresas, muito mais eficientes, entrando no mercado ou tornando-se públicas nos próximos doze a 24 meses.
Como gestora, investimos em operações de mineração de cripto desde 2017 e, mais do que nunca, essa tese tem se mostrado relevante.
Em nossa análise, além da capacidade de geração de fluxo de caixa, o “upside” nesse setor tem um “ratio” de 3:1 a 7:1 em relação à valorização da commodity em si.
Com a consolidação e profissionalização deste mercado, o “upside” poderá ser ainda maior através de rodadas de “private equity”.
O fato é que, na minha opinião, mineração é a melhor forma para estar exposto nesse mercado, gerenciando o risco e aproveitando a curva de valorização deste ciclo.
Para o investidor de varejo, infelizmente ainda são pequenas as opções para investir em mineração de forma consistente e segura, mas o investidor qualificado e profissional já possui alternativas interessantes.