Rudá Pellini: o futuro das propriedades digitais
Com base nas minhas palestras e no livro, sempre me perguntam, “e aí, qual o futuro do dinheiro?”.
A minha resposta nunca é simples e, geralmente, vem acompanhada de uma explicação sobre o conceito das principais inovações que estão acontecendo no mercado financeiro e como a nossa relação com o dinheiro e investimentos mudará completamente.
Se tiver interesse, você pode conferir meu artigo sobre o tema com essa resposta aqui.
O fato é que a tecnologia está mudando rapidamente e causando um impacto muito profundo em diversos setores. O avanço da digitalização foi mais evidente em 2020, quando manter uma presença on-line e usar diferentes canais tornou-se imperativo para sobreviver em meio à crise do coronavírus.
Essa digitalização impactou em um aumento expressivo do consumo de serviços on-line e baseados em mobile, bem como direcionou investimentos expressivos de mídias tradicionais para mídias sociais, influenciadores e redes de anúncios.
De acordo com dados do portal eMarketer, publicados no portal Tech Crunch, a projeção para 2021 é que investimentos em canais on-line sejam 65% maiores do que em mídia tradicional nos Estados Unidos.
E o que tudo isso tem a ver com o futuro do dinheiro e a disrupção no sistema financeiro? Tudo.
Entender como será este avanço é entender onde estarão as futuras oportunidades e formatos de investimento.
Com o avanço da tecnologia, investir em dados e veículos 100% digitais vem se tornando uma realidade e, aqui na Wise&Trust, nosso papel é entender esses movimentos, estruturando investimentos no que serão as futuras inovações e disrupções.
Nos últimos meses, foram divulgados diversos movimentos de grandes players da indústria que adquiriram canais e empresas de mídia on-line, sites e publishers.
Com a geração de conteúdo cada vez mais descentralizada, reter a atenção do usuário tornou-se essencial, bem como trabalhar os dados para oferecer os melhores produtos e serviços virou uma questão de sobrevivência.
Um exemplo disso foi o anúncio do Grupo SBF (B3: CNTO3) — dono da marca Centauro e que, recentemente, adquiriu a Nike no Brasil —, sobre a aquisição do grupo de mídia NWB, dona do canal Desimpedidos, por R$ 60 milhões.
Ao adquirir os canais de distribuição de conteúdo, o grupo vai conseguir direcionar melhor seus anúncios e oferecer produtos de forma mais assertiva.
Se fôssemos fazer uma analogia, o Grupo SBF está comprando um ponto comercial no melhor lugar da cidade.
Talvez você tenha ouvido falar da principal loja da Apple dos Estados Unidos, que fica na 5ª Avenida de Nova York e é icônica. Somente essa loja gera uma receita anual de mais de US$ 350 milhões para a Apple, ou seja, são cerca de US$ 330 mil por metro quadrado.
Para a Centauro, os canais de mídia do Desimpedidos são como a loja da Apple da 5ª Avenida. A partir de agora, sites e blogs, canais de YouTube e até perfis de Instagram serão vistos e analisados como “propriedades digitais”, com avaliação de rentabilidade por espaço e potencial de receita e crescimento.
A diferença é que existe uma limitação de quanto tráfego vai passar na 5ª Avenida e quantas pessoas entrarão na loja para comprar um iPhone, mas não existe um limite de pessoas que pode acessar um site ou um canal de YouTube, consumir um conteúdo e se tornar um cliente.
Assim, ao invés de fundos imobiliários tradicionais (como FIIs e REITs), teremos eFIIs e eREITS, que irão analisar esses portais e comprar essas propriedades, administrando-as e pagando dividendos sobre a receita.
Assim como já existem fundos imobiliários para investir em espaço de outdoors publicitários nos EUA, como é o caso do REIT da Outfront Media (OUT), acreditamos que, em breve, será possível investir em propriedades nativamente digitais da mesma forma.
E essa é só mais uma disrupção possível e que está muito próxima de acontecer.
Já pensou em investir em um “fundo imobiliário” de propriedades digitais? O que você acha da ideia?