Rubens Barbosa: interesse do País está antes do ideológico no caso dos navios do Irã
Independentemente ter sido uma decisão política em não abastecer os navios do Irã, mesmo porque o presidente Jair Bolsonaro declarou que está alinhado aos Estados Unidos, e portanto apóia as sanções impostas àquele país, o governo poderia autorizar a Petrobras a encontrar uma alternativa técnica e prática. Por exemplo, que a venda de combustível seja triangulada com outra empresa que não possua negócios em solo americano.
A opinião é de Rubens Barbosa, ex-embaixador brasileiro em Washington, para quem a decisão de Donald Trump em barrar negócios de empresas globais com o Irã – “sim, unilateral” (sem amparo da ONU) -, é uma “política de quem pode mais”. E poderia afetar os negócios da Petrobras nos EUA.
“O governo, que não tem política internacional estratégica, e sim ideológica, tem que pensar agora nos interesses brasileiros e encontrar uma solução rápida”, diz Barbosa, que foi muito crítico da postura internacional dos governos do PT, por também ideologizarem as relações brasileiras com o mundo.
Ele não tem certeza sobre a viabilidade em a Petrobras vender petróleo a alguma distribuidora, que não tenha relação e nem negócios em território americano, para que esta abasteça os navios pertencentes ao Irã. “Mas acredito que escaparia ao cerco possível à Petrobras”, pensa.
Presidente do Instituto de Relações Internacionais e de Comércio Exterior (Irice) e também da Abitrigo (entidade da indústria do trigo), Barbosa fala que o maior interesse em jogo agora é em relação ao mercado comprador de milho iraniano, que se constituía cada vez mais uma das principais janelas para o cereal do Brasil. Os navios retidos nos portos do Sul, por exemplo, voltariam carregados com milho.
O superávit do Brasil é de US$ 1,5 bilhão.
Nesta quarta (24), o embaixador iraniano em Brasília advertiu para a possível retaliação e também ontem já se notou certo incômodo em várias esferas do agronegócio nacional, onde o apoio a Jair Bolsonaro foi de primeira hora.
“Talvez agora o governo possa se mexer”, diz Barbosa.
Ao olhar o agronegócio como o principal setor a sentir o impacto dessa política – lembrando ainda que as compras brasileiras de ureia agropecuária vinham crescendo e se constituía no insumo mais barato à disposição do Brasil hoje , como deu Money Times (22/07) – o embaixador mostra que a Europa também tem acatado a disposição do governo Trump sobre o país do Golfo.
Só que o Brasil não é a Europa, entendendo a alocação do diplomata experiente como mostrando a disparidade de forças favoráveis contra a potencial mão pesada de Trump.
Mas, para escapar de qualquer pressão do dólar como moeda de transação internacional, da “onde também vem o poder de imposição dos americanos”, os europeus estão estudando caminhos alternativos para receber os pagamentos dos negócios com os iranianos, “uma vez que a União Europeia tem comércio muito ativo com os iranianos”, recorda Barbosa.
Outro ponto destacado é sobre o quanto de probabilidade haveria em os Estados Unidos retaliarem a Petrobras caso desobedecesse a sanção determinada, à luz da aproximação ideológica que Bolsonaro está fazendo com os Estados Unidos.
“Não importa que o Brasil sempre tenha aceito adotar sanções sob a determinação da ONU”, segue Barbosa, e tampouco se pode arriscar que os Estados Unidos feche os olhos ao Brasil como prova de amizade.
O pragmatismo americano é maior que qualquer ‘progmatismo’.