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Roteiro do dólar não muda se confirmada alta da Selic e nem agronegócio tira vantagem

21 set 2021, 15:01 - atualizado em 21 set 2021, 17:46
Dólar
Expectativa com o câmbio muda quase nada com elevação da taxa básica de juros (Imagem: REUTERS/Bruno Domingos)

A taxa Selic saindo da reunião do Copom em modo até mais agressivo, em 1,25 ponto percentual, não deverá mudar a tendência de o dólar se manter sob inflexão, sem perspectiva de recuo. Menos ainda em mais 1 pp, como se projeta para os juros básicos.

Não haverá o efeito “carry trade”, onde os investidores injetariam dólares no Brasil atrás dos juros, e nem resultados sobre o controle da inflação. Repetiria o que não aconteceu após a última reunião, que decidiu pelos juros a 5,25% ao ano.

Mesmo a vantagem para o agronegócio exportador, pelo ganho cambial na troca por reais, tem resultados duvidosos, pelos efeitos sobre a economia e pela conjuntura da soja em particular, nesta passagem do ano, onde é a mais importante das commodities em cena.

O freio nas perspectivas do Banco Central é o “risco Brasil” em alta – como admitiu, mais amenamente, o ministro Paulo Guedes, que gostaria do dólar a R$ 4,80 -, com a mistura de tensão política e o reflexo sobre a derrapagem fiscal, pelas dificuldades à vista sobre as reformas e acordos de curto prazos, como no caso dos precatórios. “Ainda tempos o ‘apagão”, comenta Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

As opiniões dele se encontram com as do economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, sobre esses aspectos internos limitantes, adicionados às instabilidades externas que injetam também mais dificuldade em prever a taxa de câmbio.

O “case” mais recente é a situação de quase default da incorporadora chinesa Evergrande, cujo poder de influenciar as economias, se não houver salvamento do governo, deixa no ar um cheiro de 2008 – a crise global aberta com a falência do banco Lehman Brothers.

Entre os economistas brasileiros consultados pelo Boletim Focus semanalmente, Antônio da Luz acredita só esse caso tem poder de destruir qualquer expectativa de atração de capital e deve estar na mesa de discussão na reunião desta terça (21) e quarta do Banco Central.

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Câmbio e demanda

Por tudo isso, na soma dos fatores, ele crê que “não adianta o exportador ganhar um caminhão de dinheiro, porque com essa mesma taxa de câmbio ele também é um importador [de insumos, por exemplo] e também vai pagar mais com a inflação interna”. Desnecessário expor o preço dos combustíveis no bolso dos brasileiros.

Além disso, o custo do capital ficará mais elevado para o produtor que ficou de fora ou não conseguiu todos os recursos que necessitava no Plano Safra.

Para o economista-chefe da Farsul, que prevê Selic em dois dígitos “ao final do ciclo de alta” – não exatamente neste ano, naturalmente -, câmbio bom também é o previsível, cenário, portanto, igualmente longe de conhecermos.

Outro analista próximo do agronegócio, Marcos Araújo, da Agrinvest, vê o dólar muito volátil no curto e médio prazos, mas não acredita que o mercado deva se prender a essa variável, mesmo que o real desvalorizado favoreça o exportador brasileiro e desfavoreça o importador.

“Observe que por várias vezes o preço da soja esteve em alta a demanda chinesa esteve forte, isso porque o crush margin [spread de processamento] estava muito positivo, enquanto há momentos que o preço está em baixa e mesmo assim a demanda está fraca”, diz.

Dito isto, o jogo para os exportadores da oleaginosa vai girar em torno da demanda chinesa que, segundo ele, precisa comprar 20 milhões de toneladas até janeiro para compor seus estoques estratégicos.

Olhando no médio prazo, segue o analista da Agrinvest, a partir de outubro a soja deverá ter viés de alta, saindo da pressão deste momento com a colheita americana andando e o plantio brasileiro começando.

Pela ótica da situação interna do Brasil e das condições dos exportadores, a taxa Selic praticamente passa a ser apenas detalhe.