Sustentabilidade

Carros elétricos à base de etanol ou lítio: a dúvida que freia o Rota 2030

22 nov 2019, 11:49 - atualizado em 22 nov 2019, 14:28
Carro elétrico desenvolvido pela Mahle
Carro elétrico desenvolvido pela Mahle: o tipo de bateria que movimentará os veículos do futuro é uma das maiores dúvidas das montadoras (Imagem: Divulgação/Mahle)

O programa Rota 2030, aprovado no apagar das luzes do governo passado e festejado pela cadeia automobilística como a galinha dos ovos no desenvolvimento de automóveis mais eficientes em potência energética e com menor taxa de emissão de partículas, ainda não deslanchou para valer ao praticamente completar um ano.

“Poucos estão se aventurando, essa é a verdade, já que mesmo com os incentivos sai caro desenvolver veículos com essas exigências, ante as interrogações sobre a economia, do risco de penalizações pelo não cumprimento das exigências e da expectativa de baixo retorno comercial”, explica Ricardo Abreu, que estava na linha de frente da P&D de uma das principais empresas do setor, a Mahle – tendo a Metal Leve (LEVE3), Cofap e outras sob o guarda-chuva do grupo alemão -, até se aposentar o mês passado.

Portanto, conhecedor do cenário na cadeia automobilística.

A renúncia fiscal para valer recai praticamente apenas para os carros elétricos e híbridos (eletrificado à base etanol ou rodando como flex), de 25% para 7% do IPI, e com adiantamentos via crédito de R$ 1,5 bilhão (10,2% sobre o IR Pessoa Jurídica e Contribuição Social sobre Lucro Líquido), entre outros, em um cipoal de benefícios e regras.

Etanol de cana, por exemplo, poderia ser a base dos carros elétricos, mas ainda não é unanimidade das montadoras (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker)

Mas sob severas penalidades para as empresas que oficializarem a presença no programa e não cumprirem as metas, de cinco em cinco anos, totalizando 15 anos.

Bifurcação

Com sobra de dúvidas sobre as reais intenções da maioria das montadoras a respeito do modelo a ser decidido pelas matrizes – se o elétrico a bateria ou o a etanol gerando hidrogênio para a eletrificação – mais as incertezas da economia brasileira, o Rota 2030 está confinado à Toyota e mais poucas empresas. Menos ainda no segmento de autopeças.

Além de destacar que as montadoras daqui não são geradoras de tecnologia com autonomia das matrizes, apesar de no caso do carro elétrico à etanol o desenvolvimento é nacional tanto quanto foi o flex, o engenheiro mecânico defende os incentivos do Rota 2030 às indústrias, na esteira do que foi o Inovar Auto, explica o ex-diretor de P&D da Mahle, em conversa com Money Times, após palestra no Seminário Bioenergia, realizado na Unicamp.

Baterias

Urgência: para Ricardo Abreu, aquecimento global requer decisão urgente sobre tecnologia de baterias (Imagem: Divulgação/SIMEA)

Mas Ricardo Abreu defende a urgência na busca de solução, diante do acelerado aquecimento global, e não descarta que se usem todas as tecnologias possíveis para mitigar as emissões. Até o uso de “baterias menores”, com outras fontes de energia, que não apenas a problemática baterização com lítio e cobalto.

“Podem ser até mais eficientes em emissões, mas são problemáticas pela extração desses minerais, portanto o processo de produção não é limpo, além da dependência que acabará se tendo da China, tanto pela concentração de terras raras em seu território, quanto das baterias”, avalia.

Segundo consta, 60% das baterias dos carros elétricos puro sangue são da China.