Economia

Rombo fiscal do governo Bolsonaro cai a menos da metade da meta; veja estudo

11 dez 2019, 23:37 - atualizado em 11 dez 2019, 23:45
Jair Bolsonaro e Paulo Guedes
Ipea alerta que a redução do déficit se deve aos eventos extraordinários, como leilões de petróleo, tocados por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes (Imagem: Isac Nóbrega/PR)

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) prevê que o déficit primário do governo neste ano deverá ser de R$ 67,1 bilhões, “menos da metade da meta definida pela Lei de Diretrizes orçamentárias [R$139 bilhões]”, conforme destaca a Carta de Conjuntura nº 45 publicada nesta quarta-feira-feira (11), no Rio de Janeiro, pela Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômica do instituto.

O déficit primário é calculado pela diferença entre receitas e despesas públicas, não considerando valores recebidos (venda de títulos) e pagos com encargos financeiros (juros) da dívida pública.

Segundo o Ipea, três fatores são responsáveis pelo resultado: a antecipação de lucros e dividendos de bancos públicos (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social [BNDES], Banco do Brasil e Caixa Econômica) ao Tesouro Nacional; a revisão para baixo das despesas obrigatórias do governo; e especialmente as receitas extraordinárias não descritas no orçamento de 2019, como “bônus de assinatura do leilão do excedente de cessão onerosa e dos leilões de exploração de petróleo em regime de concessão”.

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Veja o documento:

A dívida pública também foi positivamente impactada com a redução paulatina da taxa básica da economia. A taxa de juros implícita sobre a dívida bruta era, em final de 2017, de 9,9% ao ano, agora é de 7,6% ao ano. Além disso, a queda da Selic, a taxa de juros básico da economia, favoreceu a diminuição de gastos com subsídios dos empréstimos do BNDES e dos programas de crédito agrícola.

Liberação de gastos

A Carta de Conjuntura assinala que “o ano de 2019 é marcado por dois momentos distintos”. No primeiro semestre, houve forte ajuste orçamentário e contingenciamento de despesas do governo “devido à perspectiva de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto – soma das riquezas do país) bem inferior ao previsto na LOA [Lei de Orçamento Anual]”.

“Teve as receitas não previstas, receitas de concessões de exploração de petróleo”, aponta o Ipea (Imagem: Site da Petrobras)

Mas “a partir de julho, contudo, essas restrições foram sendo progressivamente relaxadas diante de revisões positivas tanto de receitas administradas [de tributos] quanto das não administradas [extraordinárias].”

“Na segunda metade do ano, a receita mostrou uma recuperação maior do que esperada. Teve as receitas não previstas, receitas de concessões de exploração de petróleo. Com isso permitiu [ao governo] fazer o descontingenciamento e ainda sobrar alguma coisa”, descreve Paulo Mansur Levy, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea.

Setor público consolidado – resultado fiscal
(Critério “abaixo da linha”, % do PIB)

Fonte: BCB. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea

O estudo pondera que a liberação de empenhos, após o término do contingenciamento, para despesas –  como compras de produtos e equipamentos, realização de obras, e contratação se serviços – nos meses finais do ano, deverá levar a um acúmulo de “restos a pagar” com impacto nas de despesas primárias de 2020.

A estimativa é que esse montante poderá chegar a R$ 200 bilhões (R$ 34 bilhões acima do verificado em 2019).

“Ao deixar muitos restos a pagar para 2020, pode haver pressão no orçamento ao longo do ano que vem. Depende das prioridades que [o governo] vai ter ao longo do ano”, alerta Mansur Levy que lembra que no próximo ano não está prevista receita extraordinária como as obtidas com a cessão onerosa e o leilão de áreas para exploração de petróleo.

“O desafio fiscal continua muito grande. O resultado primário deste ano se deve a fatores extraordinários que não devem repetir”, pondera o especialista.

agencia.brasil@moneytimes.com.br
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