Opinião

Rodolfo Amstalden: Três lições preciosas desses rankings de merda

30 dez 2018, 17:47 - atualizado em 30 dez 2018, 17:47

Por Rodolfo Amstalden, da Empiricus Research

Com ajuda da puxeta de final de ano, Ibovespa subiu +15,03% em 2018.

Com a ajuda do overhedge dos bancos, o dólar avançou +16,92% – vencendo (junto ao ouro) o ranking dos melhores investimentos do ano.

Eu acho esses rankings uma bosta.

Ou, sendo um pouco mais elegante no discurso, os rankings de final de ano são, para mim, uma mera curiosidade estatística. Não fornecem qualquer diretriz prática sobre onde colocar seu dinheiro em 2019, que é o que realmente importa.

Ao bitolar nos rankings de retrovisor, você só vai ficar se martirizando com condicionais impossíveis, como “ah, se eu tivesse colocado todo o meu dinheiro no dólar em jan/18!”.

Ainda assim, sempre podemos extrair lições preciosas a partir da mera curiosidade.

De imediato, penso em três insights que contribuem para 2019 em diante:

1) O fato de o dólar ter subido mais que as outras aplicações não implica “ter colocado todo o seu dinheiro no dólar”. Constatações absolutamente óbvias a posteriori podem ser (e geralmente são) estúpidas a priori. Não coloque 100% da sua grana no número que acabou de sair na roleta, e nem em nenhum outro número.

2) Dólar subiu +17% e Bolsa subiu +15%. Percebe o que aconteceu? Cuspimos na sacra correlação de que dólar sobe quando Bolsa cai, ou vice-versa. Essas correlações “históricas” entre ativos são perigosíssimas, na medida em que cerceiam nossa imaginação sobre os vários cenários possíveis para o ano que se inicia. Não tem problema algum em comprar Bolsa e comprar dólar também.

3) Com ajuda da puxeta e com a ajuda do overhedge… Costumam ser tênues os detalhes que, em última instância, determinam a ordem final do ranking. “Ouro e dólar foram os melhores investimentos em 2018”, diz a manchete na capa do portal, em letras garrafais. Mas podia ter sido o Ibovespa, que veio grudado logo atrás, e então todo o viés de interpretação seria outro. O ano da Bolsa, e não mais o ano do dólar. Pense menos no vencedor e mais nos vencedores.

Pragmaticamente, eu teria uma boa posição em Bolsa para 2019. Pode ser tão simples como BOVA11, por exemplo.

Estou falando isso antes de tudo acontecer, e não sentado em cima da história. Enriquecemos ao encarar incertezas saudáveis e assumir riscos inteligentes.

Não conheço um só investidor que ficou rico com rankings.

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