Rodolfo Amstalden: Sou como o Batman à procura de um Robin
Por Rodolfo Amstalden, da Empiricus Research
Os economistas triunfam quando – raras vezes – abrem mão da ciência e da ideologia em prol da ambivalência.
O motivo é muito simples, vou explicar.
Em ciência, o contrário de se estar certo é estar errado.
Já no mundo financeiro, as alternativas a uma boa ideia podem perfeitamente representar outras boas ou ótimas ideias.
Isso posto, ganhamos historicamente quando duas cabeças econômicas de perfis diferentes pensam melhor do que uma.
Ganhamos com a ambivalência.
Tome os exemplos icônicos de Pedro Malan e Gustavo Franco, que formavam uma dupla alienígena vinda de universos opostos.
Full disclosure, deixo claro que já tivemos ambos como exímios professores em eventos de aniversário da Empiricus. Por tê-los ouvido pessoalmente, posso garantir que as descrições das próximas linhas não implicam qualquer tipo de predileção.
O Malan dos tempos de FHC – e, imagino, também até hoje – era tímido, ouvia muito e falava pouco, abria a boca apenas na hora certa. Sempre educadíssimo. Usava terno de fim de semana.
Gustavo Franco vivia com a gravata torta e não era tão educado quando se via obrigado a discutir com pessoas burras. Se alguém quisesse ser seu inimigo, que entrasse na fila.
No entanto, como bem diz o Traumann em seu mais novo livro: “Poucas vezes em Brasília se viu uma dupla trabalhar em tamanha sintonia”.
Fico pensando, então, no Paulo Guedes, em quem tenho a boa fé liberal.
Penso neste Paulo Guedes como um Superministro da Economia.
Quem é que vai ser o antagonista, para chamar sua atenção quando ele estiver errado?
Porque é óbvio que ele vai estar errado em vários momentos, por mais inteligente e bem intencionado que seja. Todos passamos por isso.
Quem vai ser a ambivalência do Guedes?
O cargo em si não importa tanto.
Pode ser o Levy do BNDES, Bob Fields do Bacen ou a secretária do Mansueto.
Tanto faz, mas alguém tem que ser.
À distância, de forma muito modesta, seremos nós esses antagonistas também.
Palmas se acertar.
Se errar, Felipe vai meter o pau no Day One.
Estamos torcendo para que o Ibovespa supere os 100 mil, 150 mil, 200 mil pontos nos próximos meses e anos.
Mas o índice não vai chegar lá sem antes tomar vários tombos no meio do caminho.
Vááááááááários tombos.
Não é que esses tombos façam parte da jornada de valorização da Bolsa. Eles são a própria causa da valorização. São o defeito sem o qual o alicerce desmorona e a casa inteira cai.
Isso é o que chamamos de ambivalência.