Rodolfo Amstalden: Preço e valor às vezes coincidem
Ao estudar a história do pensamento econômico, entramos em contato com as ditas teorias do valor.
Teoria do valor trabalho, teoria do valor da utilidade marginal, e assim por diante…
Todas as teorias do valor se propõem a investigar as réguas usadas pelo ser humano para medir as coisas com que se relaciona – sejam essas coisas definidas como pessoas, ideias, objetos, animais, produtos, serviços…
Em filosofia, as teorias do valor se confundem com o próprio estudo da Ética e, por conseguinte, com a dicotomia secular do bom versus mau.
O que é bom para uma empresa? O que é ruim?
Como investidores, ficarmos desconfortáveis sempre que algo pretensamente bom para uma empresa (do ponto de vista ético) se traduz em um movimento ruim para o preço da respectiva ação. Ou vice-versa.
Por trás desse desconforto, reside uma lacuna epistemológica fundamental.
A despeito das várias tentativas dignas de desenvolvermos uma teoria do valor, não há qualquer sucesso comparável em termos de uma teoria dos preços.
A teoria do valor pertence aos pensadores clássicos (Smith, Marx, Menger, Walras), enquanto a teoria dos preços pertence aos Youtubers.
Ou seja, preço e valor são duas questões muito diferentes.
O preço está para o valor assim como a proa de um barco está para sua popa. Primeiro, surge o preço e, por último, o valor. O tempo que separa um e outro surgimento está diretamente relacionado à densidade da neblina e ao tamanho do barco.
À beira da praia, observando a chegada das embarcações, devemos perceber – o quanto antes – que o verdadeiro valor dos ativos surge com dificuldade.
Muitas vezes, ele só surge depois que morremos, e a muito custo. De modo que, se o mercado não lhe mostrar rapidamente o real valor de um barco, isso não será culpa do mercado e nem sua.
Fui eu que lhe pedi que viesse até aqui, então creio que devo me explicar.
Meu pedido tem a única finalidade de fazer os barcos se aproximarem da praia.
Nós os faremos se aproximar, você e eu.
Conversaremos honestamente, assopraremos a neblina.
E à medida que eles forem se aproximando, gradualmente, nós mesmos nos aproximaremos também, nem que seja um passo, da verdadeira popa.