Rodolfo Amstalden: Pare e pense no que já se viu
Por Rodolfo Amstalden, da Empiricus Research
Nesta ressaca de Natal, após ter dado um château margaux e recebido um par de meias do amigo secreto, talvez você esteja matutando sobre o conceito de stop loss.
Stop loss é como ter um freio de mão logo ao alcance para o caso de um investimento feito lá atrás mergulhar no prejuízo.
Há cem maneiras arrojadas de se calcular e implementar o stop loss“ótimo”, mas a ideia em si é bastante simples.
Por exemplo: se você suporta perder, no máximo, 10% com determinado trade, deixe uma ordem programada no homebroker para zerar a 90 uma posição que você comprou a 100.
Há alguns sérios problemas associados à execução prática do stop loss, dos quais destaco:
1) A dificuldade de estimar quanto de vol negativa o investidor tem que aceitar para ter o direito de beber da vol positiva.
2) As restrições de liquidez ou de efeito manada na hora de zerar, pois zeragens sistêmicas podem fazer com que um stop loss de 10% seja liquidado com perdas de 20%, 30% ou 50%.
Tudo isso para lhe revelar que não quero falar sobre stop loss hoje.
Estou longe de achar a ferramenta inútil, mas eu mesmo não costumo usar stop loss.
Prefiro controlar risco por meio de size positioning – o tamanho, definido logo de cara, para determinada alocação de alto risco em seu portfólio.
Pequeno e com muito risco acontece desta forma: se você perder, não machuca. Se você ganhar, faz diferença no todo.
E gosto ainda mais de pensar no risco com exatamente o mesmo algoritmo que uso para estimar assimetrias favoráveis, pautando-me na chamada “margem de segurança”.
Em sua versão canônica (Graham, Dodd, Buffett, Munger, etc…), a margem de segurança prega o mandamento de comprar por 50 centavos aquilo que vale um real.
Ou, numa versão um pouco mais flexível e mundana, comprar por – no máximo – 67 centavos aquilo que vale um real.
Assim, mesmo que estejamos errados quanto à perspectiva de valer um real, temos uma boa margem para continuar lucrando caso o ativo valha 70c, 80c ou 90c, por exemplo.
Quanto maior sua margem de segurança, maiores suas chances de lucrar mesmo estando errado.
Isso é importantíssimo, pois o cenário-base em finanças é justamente o de estarmos errados ou, na melhor das hipóteses, estarmos apenas aproximadamente certos.
Outro ponto essencial da margem de segurança é a de que ela é definida por você no momento da compra, ao preço de compra.
Quem faz margem de segurança na venda (“melhor colocar essa grana no bolso, pois sabe-se lá o que vai acontecer com o ativo”) na verdade está inseguro em relação ao investimento.
É claro que ninguém sabe exatamente quanto vale um ativo; o dito “valor intrínseco” é meramente um conceito platônico.
Mesmo assim, a ideia de margem de segurança continua útil e prática.
Ao comprar uma das Melhores Ações da Bolsa por um preço módico, você não está exigindo tanto assim da empresa. Até mesmo eventos normais e corriqueiros podem fazê-lo enriquecer.
Já ao comprar uma ação por 40 vezes os lucros, você precisa torcer desesperadamente pelo sucesso da colonização de Marte, até 2025.