Rodolfo Amstalden: Ninguém tem paciência comigo
“Ah, o que todo investidor deveria ter mesmo é paciência!” — meu chefe tentava ensinar, durante a crise do subprime, para quem quisesse ouvir.
Que genial.
Será que ele se referia ao período caprichoso entre o estresse do Bear Stearns e o colapso do Lehman Brothers?
Ou ao tempo estimado para comprar e aguardar DTEX3 em dezembro de 2008?
As duas coisas se parecem bastante com paciência, mas uma delas traz consigo a falência e a outra leva a um triunfo de +300%.
O que é exatamente a paciência, conforme os termos acordados com o mercado?
Ela é o fundo do poço que tem porão, jamais tente pegar uma faca caindo?
Ou é o sentimento seguro de encostar as costas no chão firme, o alívio de beijar o solo ao descer de um avião?
Tudo isso eu perguntei naquela época, mas meu chefe não sabia.
Não posso culpá-lo inteiramente. Subimos na carreira sabendo pouco, e desconfiando muito.
Desconfio, por exemplo, que a espera necessária para o bolo crescer, que os minutos famintos antes da sopa quentíssima, não são paciência de verdade. Ao menos, não para o mercado.
A paciência de que fala o mercado é mais profunda, é sobre resignação. Abandonar o controle e submeter-se à vontade do destino.
É aquela coragem quase covarde, pois você não vai mais resolver os próprios problemas; eles serão resolvidos de alguma forma desconhecida, por um alguém desconhecido.
A paciência de que fala o mercado é sobre sofrer calado.
E o que significa isso?
Silêncio.
Você reclama sem ser ouvido. Aguenta até onde der. Com sorte, dá certo. Sem certezas, dá sorte. Pode dar azar também.
Tecnicamente, a paciência do investidor é uma função de sua capacidade de suportar períodos consecutivos no vermelho, na esperança de alcançar um objetivo financeiro mais à frente.
Precisamos saber “underperformar” para “outperformar”. Não existem atalhos, não há outra saída. Esta é a grande ambivalência do mercado: perder para ganhar.
Durante sua jornada de investidor, você deve estar preparado para encontrar drawdowns entre -40% e -60%.
Em média, a cada cinco anos, você terá um ano muito merda.
Assim são dadas as regras.
Paciência, também conhecido como Solitário, é um jogo de cartas para um só jogador.