Mercados

Rodolfo Amstalden: Método POP para calcular o preço-alvo de uma ação

06 jan 2019, 19:55 - atualizado em 06 jan 2019, 19:55

Por Rodolfo Amstalden, da Empiricus Research

Disclosure necessário: esta é uma newsletter ao gosto dos leitores mais técnicos, embora perfeitamente digerida também pelos acionistas de primeira viagem.

Ela fala sobre o Fluxo de Caixa Descontado, que é o método mais popular – diariamente usado pelos financistas da Faria Lima – para calcular o “preço-alvo” de uma ação.

Na frase “a ação que hoje negocia a R$ X na verdade vale R$ Y “, X é o preço de mercado e Y é o preço-alvo. Em tese, se X = 50 e Y = 100, você poderia obter um retorno de +100% com essa ação, dobrando seu capital investido.

Por si só, essa frase em destaque pressupõe uma certa (ou errada) arrogância vinda de quem a pronuncia, tomando por premissa que o preço de mercado não é o preço “de verdade”.

Quem usa a frase está insinuando, implicitamente: eu sei algo que o mercado (uma multidão de compradores e vendedores) não sabe.

Ok, vamos lá então.

A forma tradicional de calcular o preço-alvo de uma ação exige estimar os fluxos de caixa de uma empresa durante um período futuro significativo; digamos, pelos próximos dez anos.

Em seguida, o financista escolhe uma taxa de desconto que incorpora os riscos e custos de oportunidade desses fluxos de caixa futuros.

Como não bastam dez anos (pois a empresa tem vida hipoteticamente eterna), adiciona-se ao cálculo um valor terminal amparado na taxa de desconto e em uma taxa de crescimento perpétuo.

A rigor, o fluxo de caixa projetado para o décimo primeiro ano é multiplicado por um fator que equivale a 1 dividido pela diferença entre o custo de capital e a taxa de crescimento perpétuo.

Ex: se o custo de capital é de 10% e o crescimento perpétuo é imaginado como 5%, o fator equivale a 1/(0,10 – 0,05) = 1/(0,05) = 20x.

Por fim, todos os fluxos de caixa, e também o valor terminal, devem ser trazidos a valor presente conforme a taxa de desconto.

Não vou perder tempo criticando as variadas lacunas metodológicas. Hoje quero apenas destacar uma única fragilidade do Fluxo de Caixa Descontado, que é já suficiente para cuspirmos nesse modelo pelo resto da vida.

O resultado final da conta (o tal do preço-alvo) varia absurdamente mediante mudanças mínimas nos parâmetros inicialmente utilizados, conferindo ao modelo um comportamento quase caótico.

Se trabalhamos com um crescimento perpétuo de 4% e com um custo de capital de 8%, o valor terminal terá um fator multiplicativo de 25x = 1(0,08 – 0,04).

Agora, vamos supor que erramos a estimativa dessas variáveis em apenas um ponto percentual, para cima ou para baixo.

Com crescimento perpétuo de 3% (-1 pp) e custo de capital de 9% (+1pp), obtemos um fator multiplicativo de 16x = 1/(0,09 – 0,03).

Já com crescimento perpétuo de 5% (+1pp) e custo de capital de 7% (-1pp), obtemos outro fator multiplicativo de 50x = 1/(0,07 – 0,05).

O valor terminal, isoladamente, responde pela maior parte do resultado final.

E errando apenas 1 ponto percentual, para cima ou para baixo, esse valor terminal pode ser multiplicado por 16x ou por 50x.

Kkkkkkkkk.

Trata-se de um intervalo no qual o máximo equivale a mais de três vezes o mínimo!

Dá para confiar? Você confiaria seu dinheiro em um modelo desse tipo?

Nem fodendo.

Fluxos de Caixa Descontados são uma grande besteira, um exercício arrogante de futurologia disfarçado de exatidão matemática.

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