Colunista Empiricus

Rodolfo Amstalden: Mercado em 5 minutos (in memoriam)

16 dez 2021, 17:36 - atualizado em 16 dez 2021, 17:36
Rodolfo Amstalden
(Imagem: Murilo Constantino/Empiricus)

“(…) Powell convenceu todo mundo de que vai controlar a inflação corrente e crescente aumentando juros (…) Se essa crença for cuidadosamente cultivada ao longo dos próximos meses, é bem provável que os preços voltem a convergir para patamares estáveis.”

00:07 – Tudo o que leva consigo um nome

trago-lhe boas notícias
finalmente será demolida
a parede e instalarão
para mim uma janela
nem posso acreditar
depois do tanto
que insisti
agora verei a ponte
agora verei o caminho
(Francisco Mallmann)

01:10 – O verso e o metaverso

Para quem se preocupa em entender as distantes proposições do metaverso, nem precisa ir tão longe; ele está mais próximo do que parece.

Ontem, Jeremy Powell, presidente do banco central americano, reagiu ao maior choque inflacionário dos últimos 30 anos sem levantar um dedo.

E foi aclamado por isso.

De forma 100% virtual, Powell convenceu todo mundo de que vai controlar a inflação corrente e crescente aumentando juros em algum momento do ano que vem.

Se essa crença for cuidadosamente cultivada ao longo dos próximos meses, é bem provável que os preços voltem a convergir para patamares estáveis. 

Ironicamente, teríamos um cenário em que talvez nem seja preciso aumentar de fato os juros. Tudo seria resolvido só na base da conversa de bar, regada a Brahma gelada com porção de tremoço.

02:43 – Cada um no seu metaquadrado

Na metalinguagem, a linguagem faz referência à própria linguagem; um dicionário feito de palavras que têm a missão de explicar palavras, por exemplo.

Na metaexpectativa, as expectativas influenciam as próprias expectativas, como no concurso de beleza keynesiano.

Por fim, no metaverso, encontramos um universo que alude a si mesmo. 

Minha motivação para comprar um terreno em Decentraland deriva, só e somente só, das características intrínsecas de Decentraland.

Logo, não cabem comparações entre o metro quadrado da Faria Lima e o metro quadrado do NFT em Genesis City.

03:57 – Mutuamente excludentes

Graças a Bertrand Russell e Kurt Gödel, conhecemos bem as limitações de sistemas pautados exclusivamente em autorreferência. 

Tais sistemas devem necessariamente escolher entre a incompletude e a inabilidade de provar se algo é verdadeiro ou falso.

Se quiserem ser completos, terão que conviver com mentiras tácitas. Se quiserem ser completamente confiáveis, terão de abrir mão da completude.

Por ora, o metaverso parece escolher o primeiro caminho, da ambição de se tornar completo, metaversal. 

Sabemos, portanto, o que esperar da validade de seus valuations.

04:42 – Me espia que eu gosto

Trago-lhe boas notícias?

Depois de tantos anos enclausurados, recebemos o comunicado de que a parede está sendo demolida, finalmente.

Poderíamos correr para a rua, esfregar nossos corpos suados em pleno Carnaval.

Mas preferimos instalar uma janela na parede, através da qual veremos nossos vizinhos espiando por trás de suas próprias janelas.