Rodolfo Amstalden: Mercado em 5 minutos (in memoriam)
“(…) Powell convenceu todo mundo de que vai controlar a inflação corrente e crescente aumentando juros (…) Se essa crença for cuidadosamente cultivada ao longo dos próximos meses, é bem provável que os preços voltem a convergir para patamares estáveis.”
00:07 – Tudo o que leva consigo um nome
trago-lhe boas notícias
finalmente será demolida
a parede e instalarão
para mim uma janela
nem posso acreditar
depois do tanto
que insisti
agora verei a ponte
agora verei o caminho
(Francisco Mallmann)
01:10 – O verso e o metaverso
Para quem se preocupa em entender as distantes proposições do metaverso, nem precisa ir tão longe; ele está mais próximo do que parece.
Ontem, Jeremy Powell, presidente do banco central americano, reagiu ao maior choque inflacionário dos últimos 30 anos sem levantar um dedo.
E foi aclamado por isso.
De forma 100% virtual, Powell convenceu todo mundo de que vai controlar a inflação corrente e crescente aumentando juros em algum momento do ano que vem.
Se essa crença for cuidadosamente cultivada ao longo dos próximos meses, é bem provável que os preços voltem a convergir para patamares estáveis.
Ironicamente, teríamos um cenário em que talvez nem seja preciso aumentar de fato os juros. Tudo seria resolvido só na base da conversa de bar, regada a Brahma gelada com porção de tremoço.
02:43 – Cada um no seu metaquadrado
Na metalinguagem, a linguagem faz referência à própria linguagem; um dicionário feito de palavras que têm a missão de explicar palavras, por exemplo.
Na metaexpectativa, as expectativas influenciam as próprias expectativas, como no concurso de beleza keynesiano.
Por fim, no metaverso, encontramos um universo que alude a si mesmo.
Minha motivação para comprar um terreno em Decentraland deriva, só e somente só, das características intrínsecas de Decentraland.
Logo, não cabem comparações entre o metro quadrado da Faria Lima e o metro quadrado do NFT em Genesis City.
03:57 – Mutuamente excludentes
Graças a Bertrand Russell e Kurt Gödel, conhecemos bem as limitações de sistemas pautados exclusivamente em autorreferência.
Tais sistemas devem necessariamente escolher entre a incompletude e a inabilidade de provar se algo é verdadeiro ou falso.
Se quiserem ser completos, terão que conviver com mentiras tácitas. Se quiserem ser completamente confiáveis, terão de abrir mão da completude.
Por ora, o metaverso parece escolher o primeiro caminho, da ambição de se tornar completo, metaversal.
Sabemos, portanto, o que esperar da validade de seus valuations.
04:42 – Me espia que eu gosto
Trago-lhe boas notícias?
Depois de tantos anos enclausurados, recebemos o comunicado de que a parede está sendo demolida, finalmente.
Poderíamos correr para a rua, esfregar nossos corpos suados em pleno Carnaval.
Mas preferimos instalar uma janela na parede, através da qual veremos nossos vizinhos espiando por trás de suas próprias janelas.