Rodolfo Amstalden: Hospedeiros à procura de ar
“It is difficult to get a man to understand something
when his salary depends upon his
not understanding it.”
Upton Sinclair
A Empiricus desrespeita as boas regras de ergonomia.
Já fomos processados por isso, por sermos figuras tortas.
Ontem pela manhã, o Felipe escrevia com as costas em arco e os olhos mergulhados no monitor.
É sempre assim.
Quando estamos escrevendo, geralmente mergulhamos e lá ficamos, nas profundezas de algum lugar confuso, sem respirar por um tempo.
Então, se der sorte, enxergamos um fiapo de luz. Seguimos o caminho da luz e alcançamos a superfície.
Felipe bota a cabeça para fora antes de mergulhar uma vez mais, em busca da próxima frase.
Do nada, ele levanta a cabeça e me diz:
“Me veio agora essa ideia, de repente, tomou conta de mim. Sabe como funciona? Quando uma ideia vem e toma conta de você, e você percebe aquilo como verdade?”
Não sei como funciona, acho que ninguém sabe, mas sei do que ele está falando.
Somos encarnados por entes abstratos com vida própria, entes que só conseguem se manifestar concretamente se exercem o domínio de um corpo frágil, demasiadamente humano.
Somos hospedeiros.
Os melhores investidores não são mais nem menos do que hospedeiros, e se reconhecem como tal.
Não existe preço-alvo, não existe análise fundamentalista, e muito menos análise técnica.
Só existe essa sensação, inexplicável, de perceber alguma coisa como verdade, que pouco tem a ver com dinheiro.
Investir é perceber o futuro como verdade, é talvez a maior e mais ingênua demonstração de confiança que temos na vida e na humanidade.
Confiamos quase cegamente, pois, no decorrer do processo, não é possível saber se estamos fazendo a coisa certa.
Nem ao final do processo é possível saber com certeza.
Você vai lá, você faz o investimento, bota a cabeça para fora.
Não é para enriquecer que os pulmões se enchem de ar.
É para sobreviver.