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Rodolfo Amstalden: homens com os dentes de fora, à caça de cães

16 jan 2020, 11:59 - atualizado em 16 jan 2020, 12:38
“Jornalistas inventam versões apimentadas dos fatos, e os leitores gostam” (Imagem: Reuters/Brendan McDermid)

O Ibovespa caiu -1,04% ontem.

Manchetes de hoje banhadas de sangue: Bolsa brasileira tem a maior queda do ano.

Cachorros que mordem homens não fazem notícia.

Já os homens que mordem cachorros rendem muitos cliques.

Posto que são raros esses casos de homens mordendo cachorros, os jornalistas inventam versões apimentadas dos fatos, e os leitores gostam. Somos todos culpados, todos querendo fugir da monotonia fatigante de nossas mesmices diárias.

O helicóptero que quase cai jamais será o helicóptero que pousa.

Ironicamente, enquanto estamos distraídos inventando histórias, a realidade dá conta de prover evidências muito mais engenhosas que as da ficção.

Cosan é a controladora da Comgás, detendo 99,14% de participação na mesma, agora por meio da subsidiária DG (Distribuidora de Gás).

Como era de se esperar, as ações CSAN3 e CGAS5 caminham historicamente juntas, já que Comgás responde por uma parcela significativa dos resultados da Cosan.

No entanto, dado o float hoje irrisório de CGAS5, que redunda em parca liquidez, qualquer coisa pode acontecer com o papel.

Pode ser que a DG queira fazer o sprint final e chegar aos 100%, pode ser mera especulação de sardinhas nos concorridos fóruns da “deep web”.

Fato que, numa dessas, CGAS5 mais que dobrou de valor desde o início de dezembro, maxivalorização de 143,62% em 45 dias. Bateu o CDI.

Aconteceu, não temos dúvidas. Pessoas de verdade ganharam dinheiro com isso. Está nos números, nos gráficos; não é ficção.

Mas é perigosíssimo.

“Too much of a good thing may turn into a bad thing.”

Enquanto milhares de novatos compram BOVV11 pela primeira vez, investidores de segunda viagem estão migrando para as microcaps.

É uma migração bem inteligente, com prêmios de mercado potencialmente maiores, desde que feita na dose certa.

Dose certa é com pouco dinheiro (como % do seu patrimônio total).

Dose certa é evitando adentrar o submundo quântico de ações tão minúsculas que nem aparecem no microscópio do Max.

Não invista em microcaps sob a ótica de “quanto menor, melhor!”.

Para além das microcaps, o investidor incauto cruza uma fronteira proibida, invadindo um mundo de “penny stocks” que desobedecem às leis usuais da Física.

Naquele outro mundo, viramos homens com as mandíbulas de fora, à procura de cães.

Sócio-fundador da Empiricus
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
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