Rodolfo Amstalden: Fechamento de ciclo, abertura de ciclo
“No contexto atual, por exemplo, estamos aprendendo que fluxos de caixa muito concentrados na perpetuidade podem ser um problema.”
“São dois os mais fortes guerreiros de todos:
o Tempo e a Paciência”
— Leon Tolstói
O Copom errou para baixo em 2%, vai errar para cima em 12%?
Juros sobem, juros caem, juros sobem.
E assim por diante, até o fim dos tempos.
Há dor nos excessos atingidos a cada pico e a cada vale, mas há também uma lógica saudável nessas oscilações.
Aprendemos mais transitando entre altos e baixos do que se a vida fosse simplesmente uma linha reta.
No contexto atual, por exemplo, estamos aprendendo que fluxos de caixa muito concentrados na perpetuidade podem ser um problema.
Quando os juros sobem, o valor presente de um infinito qualquer converge para muito próximo de zero. Não sobra muita coisa.
Essa é uma séria questão de valuation, sem dúvida.
Empresas até então chamadas de “disruptivas”, com “puro crescimento exponencial”, de repente veem suas ações caírem -40%, -60% ou -80%, graças a um ajuste simples do denominador intertemporal.
Contudo, há outra questão mais séria, pouco citada nos círculos dos financistas, e que — muito antes dos juros — coloca em xeque as concepções de negócio concentradas em fluxos de caixa futuros.
Essa última questão é: quem são os C-Levels, VPs, diretores, gerentes, analistas e estagiários que levarão a empresa à perpetuidade?
Porque sozinha ela não vai, nem a Tesla inventou autopilot para isso ainda.
Aliás, a Tesla que tem em seu fundador, Elon Musk, a prosopopeia da obstinação por trás de uma ideia maluca, a prova de que uma empresa que aposta em perpetuidade depende de pessoas igualmente perpétuas, que não desistam no meio do caminho.
Falo isso — você deve imaginar — por conta de algo que aconteceu nesta semana: o IPO do Nubank.
Alguém de fora pode se assustar com o fato de que Nubank (US$ 42 bilhões) hoje vale mais do que Itaú (US$ 38 bilhões), mas há um motivo justo para isso.
Na média, os colaboradores e sócios que trabalham no Nubank estão interessados em dedicar à empresa muitos mais anos futuros do que seus pares de Itaú.
A perpetuidade está logo ali para quem não se deixa sufocar por ela.
Você vai nadando uma piscina de 25 metros por vez, e outra, e outra, e outra, e de repente, cruzou o Canal da Mancha sem nem perceber.