Opinião

Rodolfo Amstalden: Estudo para flexibilizar a regra do teto de ganhos

05 set 2019, 10:31 - atualizado em 05 set 2019, 10:31
Colunista discorre sobre o quão barata está a bolsa e retórica dos investimentos (Imagem: Bloomberg)

Vou começar hoje do fim, para terminar no começo.

O fim e o começo trocam de lugar, uma vez mais.

Todo mundo agora fala sobre a inversão da curva de juros nos EUA.

Virou papo de boteco até. Ou, pelo menos, dos botecos engomados do Itaim e do Leblon, onde o rabo de galo é 40 reais.

Bom, se está todo mundo falando, deixa falar também quem inventou a fofoca.

Na década de oitenta, o professor Campbell Harvey, da Duke University, ficou conhecido por trazer à tona a relação entre juros invertidos (antes) e episódios de recessão (depois).

Mas se você prestar atenção à entrevista que ele deu para o Valor, vai perceber que as palavras de Campbell sobre a yield curve contêm a semente de sua própria destruição:

Sete esposas dizem que vão sair para comprar cigarro e nunca mais voltam. Isso não significa que acontece toda hora, nem com todas as esposas do mundo. Geralmente, só deu vontade de fumar e o cigarro acabou, uai.

Não estou aqui desmerecendo o valor de anedotas como a da yield curve. A retórica é fundamental na Economia (vide McCloskey, Persio Arida), desde que não seja confundida com ciência.

No campo metafórico, sete anedotas são muitas anedotas.

No campo científico, sete observações configuram uma estatística pífia, sequer digna de nota.

Precisaríamos de 7 mil séculos de história econômica mundial para concluir seguramente sobre o passado da yield curve (o que sequer garantiria extrapolações para o futuro).

No entanto, o célebre “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith, foi publicado em 1776. Os modos de produção antes disso pouco lembram os atuais.

Na falta de uma amostra extensa e confiável, ficamos com o gosto amargo da retórica na boca e com a impressão de que alguma coisa lá fora cheira estranho.

Não precisamos de mais do que isso, nem de menos.

Sem triggers, o Ibovespa teve a manha de subir +1,52 por cento ontem.

Ok que Reino Unido e Hong Kong ajudaram. Ok que a reforma da Previdência andou mais um tanto no Senado. Mas, convenhamos, nada muito relevante.

O índice barato depende de pouco para subir. Nem precisa de ajuda. Sem ninguém atrapalhando, já estaria perto dos 150 mil pontos.

Seria pedir demais uma vida tranquila, sem ninguém para atrapalhar?

Bolsonaro pediu estudo para flexibilizar a regra do teto de gastos, para a alegria do PSOL e a tristeza de Paulo Guedes.

Eu não gosto de ver o Paulo cabisbaixo, não gosto mesmo.

Então mandei um e-mail para ele em superministrodaeconomia@fazenda.gov.br, lembrando que despontam por aqui rompantes liberais, apesar de tudo.

Citei o acórdão do STJ sobre o Uber:

“Os motoristas de aplicativo não mantêm relação hierárquica com a empresa Uber porque seus serviços são prestados de forma eventual, sem horários pré-estabelecidos e não recebem salário fixo, o que descaracteriza o vínculo empregatício.

Nesse processo, os motoristas atuam como empreendedores individuais, sem vínculo de emprego com a empresa dona da plataforma.”

No assunto que escolhi para o e-mail, incluí um trocadilho, espero que ele perceba a inteligência sutil.

Se percebeu, deve ter sorrido, e então me dou por satisfeito.

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