Rodolfo Amstalden: Ei, companheiro, a conta está chegando para os capitalistas
A história do empreendedorismo no Brasil — e também no mundo — mostra que o termo “capitalismo” é equivocado.
Calma, eu não sou um ex-banqueiro que virou companheiro. Refiro-me apenas à etimologia da palavra, desconectada de sua real semântica.
Via de regra, os grandes empreendedores brasileiros (heróis nacionais) não dependeram fundamentalmente de acesso a capital para ter sucesso.
O capital estava lá, é claro, mas nunca exerceu uma função dominante na construção dos negócios, nem poderia.
Sem PEs, sem VCs, num mundo old school de hiperinflação, maxideval e juros altíssimos, acesso a capital nunca foi sequer uma opção.
Era preciso resolver as coisas de algum outro modo, com sangue, suor, lágrimas, um pouquinho de cérebro e alguma sorte no meio do caminho.
Meu postulado, portanto, é o seguinte: acesso a capital não é uma condição fundamental para a prosperidade de uma bela ideia de negócio.
O contrário, porém, parece bem mais plausível: acesso amplo e irrestrito a capital pode promover temporariamente más ideias de negócio, e até mesmo arruinar ideias medianas, que possivelmente encontrariam sucesso com o teste do sangue, suor e lágrimas.
Ao longo dos próximos meses, enxergaremos a real faceta das maluquices feitas em rodadas de captação nos últimos três anos.
A conta está chegando para os capitalistas.
Infelizmente, ela chega também para os companheiros: os funcionários dos capitalistas, os clientes dos capitalistas, os minoritários dos capitalistas.
Aquelas empresas já obrigadas a fazer demissões em massa para ajustar a operação são automaticamente maculadas pelo mercado e pelo LinkedIn, piorando sua própria vida, e adiando o mesmo ajuste necessário em tantas outras.
A conta só vai aumentar.
A vida empreendedora começa mais fácil para quem tem acesso a capital abundante. Não sabemos ainda exatamente como ela termina.