Rodolfo Amstalden: De onde viemos, para onde não vamos
Ana, Felipe, Mérola e eu escrevemos cada Day One de maneira absolutamente espontânea.
Mesmo que fiquemos matutando o tema da próxima newsletter, pois nem todos os temas surgem por osmose, ainda assim se trata de um matutar espontâneo.
Ninguém nos diz o que escrever.
Se quisermos, podemos falar mal do governo, ou criticar as entidades do pump and dump.
Se não quisermos, não precisamos falar nada especial, atendo-nos a elucubrações metalinguísticas, contando histórias, parafraseando Feyerabend.
Por toda a parte, e sobretudo no mercado financeiro, existem aqueles que planejam precisamente cada palavra que proferem ou cada sopro de ar que exalam. Fazem isso de forma que os idiotas de amanhã possam admirar sua perfeição.
Na Empiricus, somos imperfeitos, cometemos erros.
Nós somos os idiotas de ontem, aspirando algo melhor amanhã.
Hoje dá para ver que a fundação da Empiricus fora um engano enorme sob quaisquer métricas usuais de risco-retorno.
Nascemos longe da fronteira eficiente, sem bússola para encontrá-la, nada no bolso ou nas mãos.
Só tínhamos nosso trabalho como forma de identificação.
Nosso grande MasterPlan era sentar a bunda na cadeira, estudar e escrever.
E até hoje é meio assim, situação perigosa essa de depender estritamente da própria labuta.
Pode levar a uma profunda depressão, à mesma doença que acometeu o filósofo em seus anos derradeiros.
Feyerabend frequentemente alertava seus alunos sobre a necessidade de não deixar se identificar integralmente com o próprio trabalho.
Se você quer conquistar alguma coisa na vida — por exemplo, se você sonha em escrever livros, pintar quadros, montar carteiras de investimentos —, tome uma importante providência antes de começar.
Certifique-se de que o centro de sua existência, sua raison d’être, situe-se em algum outro local (nem livros, nem quadros, nem investimentos), construído sobre alicerce firme.
Só assim você poderá cultivar sua paz interna, resistindo aos drawdowns e recebendo com senso de humor os ataques que inevitavelmente virão daqueles que o invejam.
O centro da nossa existência não é a Faria Lima, você já percebeu isso.
Provavelmente, é um lugar parecido com Senhora do Porto, no interior das Minas Gerais.