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“Riscos do Brasil” estressam real frente ao dólar e geram comportamento atípico

07 jan 2021, 8:15 - atualizado em 07 jan 2021, 8:21
Dólar, Dinheiro, Câmbio
O comportamento do preço do dólar americano frente ao real no mercado nacional é resultado da tentativa de se pagar fogo com gasolina, comenta o analista (Imagem: Unsplash/@cameramandan83)

O país vive um grande imbróglio como se fosse um enorme e indomável polvo e seus tentáculos, e para tentar apagar este fogo utiliza gasolina pura da melhor qualidade.

Então, o primeiro e marcante sinal repercutindo esta complexa situação vem do comportamento do preço do dólar americano frente ao real no nosso mercado, com apreciação e volatilidade, num cenário global em que a moeda americana se deprecia com fundamentos ante as demais moedas emergentes ligadas a commodities e tem um viés acentuado de manter esta tendência também, com alguma volatilidade, ante as moedas fortes.

O fortalecimento político do novo Presidente Biden acentua o conjunto de expectativas favoráveis e mutantes para melhor no relacionamento dos Estados Unidos com as demais economias, com postura mais convergente e menos conflituosa, e isto retira tensões sobre o dólar fragilizando-o como tendência.

Mas fortalecendo a percepção de que o país poderá retomar a dinâmica de crescimento, mesmo com o convívio  com os relevantes problemas sanitários que ainda se fazem muito presentes, para os quais dá suporte para enfrentamento aos seus nacionais com vacinação e suporte financeiro.

Contrariamente, o Brasil, cada vez mais, se vê envolvido por um emaranhado de problemas e incertezas, que culminou com a contundência da afirmação de Bolsonaro de que “o país está quebrado”, concomitantemente com a ocorrência da inadimplência de compromissos internacionais perante o Brics, sucedendo ao término dos programas assistenciais à população carente e desamparada face à pandemia por exaustão dos recursos,  o que fortalece o rigor com que é observada a crise fiscal que o encurrala e para a qual não há saída imediata.

Todos sabem que efetivamente são  necessárias iniciativas com protagonismos de liderança do governo para impulsionar as reformas imprescindíveis, algumas paradas e outras idealizadas teoricamente, precisando foco nisto com menos falas e mais ações, visto que grande parte impõe alinhamento politico com o Congresso, que neste momento promove a renovação de seus comandantes num ambiente de acirramentos e resultantes ainda muito indefinidos.

O Brasil, cada vez mais, se vê envolvido por um emaranhado de problemas e incertezas, que culminou com a contundência da afirmação de Bolsonaro de que “o país está quebrado” (Imagem: Reuters/Adriano Machado)

E do outro lado da janela, na medida em que o governo busca atenuar o foco na pandemia menosprezando sua grandeza no país, emergem transparentes as enormes deficiência e carências do país, onde está o preocupante desemprego que tende a elevar seus números negativos com o ingresso de novos pleiteantes agora desprotegidos dos programas assistenciais do governo que foram finalizados, que atemoriza com a perspectiva de aumento da miséria.

E, infalivelmente, trará impactos no consumo que estava turbinado pelos programas e que evitaram uma queda maior do PIB no ano de 2020; e o absoluto travamento de todas e quaisquer iniciativas por absoluta carência de recursos.

Afloram as realidades tenebrosas brasileiras que vinham sendo mitigadas em suas percepções, e, contrariamente aos discursos governamentais, ganha visibilidade o agravamento severo do rebote da pandemia do coronavírus no país, que certamente terá efeito paralisante em parte da atividade econômica do país que urge ser retomada e que “sufocará” o governo na sua incapacidade de dar suporte a esta população dependente, deixando inquestionável a afirmativa expressada pelo Presidente sobre a situação do país.

Ademais, tudo isto num cenário em que nem sequer se tem viabilização clara e indiscutível do programa de vacinações preventivas, ainda muito politizada e gerando intranquilidade à população, havendo inclusive falta de insumos complementares.

O cenário global enseja perspectivas gradualmente otimistas, há um esforço alinhado neste sentido, mas o Brasil transparece ter ficado fora do ponto da curva da retomada e acaba sendo punido pelos seus próprios descasos com as tratativas acerca da pandemia e das reformas estruturais absolutamente descabidos, “enredado e enjaulado” por si próprio.

É perceptível que há inquietação no âmago do governo federal, evidentemente “não dá para dormir com um barulho destes”, e notoriamente a construção de uma trajetória de saída deste emaranhado de perturbações não tem perspectiva fácil e nem imediata, porém a ebulição desta inquietação repercute no mercado financeiro e inicialmente, como sempre acontece,  na formação do preço do dólar pontualmente, visto que a postura defensiva dos “players” atuantes focam, normalmente, a busca de abrigo no dólar, o ativo mais à mão pelos instrumentos derivativos disponíveis, e que avilta seu preço até por “osmose”.

A Bolsa ainda não sucumbiu, mas já dá mostras de podem sugerir esgotamento, adverte o colunista (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)

Este estado de coisas neutraliza e revertem quaisquer tendências prospectivas tidas como factíveis, e podem fomentar desalento com potencial para reverter o discreto otimismo que vinha prevalecendo, em grande parte como anseio e não com fatos sustentáveis, ao aquecer as preocupações.

O Ibovespa (IBOV) ainda não sucumbiu, mas já dá mostras de podem sugerir esgotamento, fato que já destacamos em “post” anterior e que a deixa muito à mercê do “input” que poderá ser dado pela continuidade do retorno dos investidores estrangeiros, mas é perceptível que as “blue chips” brasileiras ao terem recomposto seus preços perderam o viés de sustentação de mais alta, exceto quando há algo muito pontual como, por exemplo recentemente, envolvendo o petróleo, no mais o em torno dos 120 mil pontos parece ser o ponto cume resistente do índice no momento.

É absolutamente necessário que surjam fatos novos e rigorosamente positivos para que ocorra reanimação, caso contrário poderá haver desalento e o capital externo voltar a revelar forte aversão ao risco brasileiro, e, consequentemente bater em retirada invertendo a tendência acreditada, e não só isto, é preciso ter em mente que o investidor brasileiro também tem aprendido a investir no exterior.

Entendemos que o BC, profilaticamente, buscando evitar exacerbação no preço do dólar que seria extremamente nociva à inflação, ofereceu ao  mercado US$ 500 Mi  contratos novos de swaps cambiais para atender a demanda por “hedge de segurança” e poderá repetir nova oferta hoje envolvendo até dólares à vista, sempre que identificar alguma pressão de demanda efetiva neste segmento. A autoridade precisa ser extremamente previdente neste momento em que o comportamento dos mercados pode se afastar dos aspectos técnicos e fundamentados.

O governo está num “corner” que o neutraliza, este é o ponto.

É imperativo que aja mais e fale menos visando evitar acirramentos maiores e mais desgastantes e, principalmente, para mitigar erros, como os contumazes de atribuir a outrem as suas culpas.