Risco político com Petrobras aumenta incerteza para setor de etanol, diz Fitch
O risco político relacionado à mudança solicitada pelo governo federal no comando da Petrobras (PETR4) aumenta as incertezas sobre a recuperação do setor de etanol do Brasil, que possui ligação direta com a política de preços da estatal, disse a agência de classificação de riscos Fitch nesta terça-feira.
Segundo a Fitch, a influência do governo do presidente Jair Bolsonaro na estratégia de negócios da Petrobras pode ser um fator negativo para o fluxo de caixa das companhias de açúcar e etanol do país, embora seja um movimento neutro para seus ratings.
Bolsonaro anunciou na sexta-feira a indicação do general Joaquim Silva e Luna para a presidência da estatal, hoje ocupada por Roberto Castello Branco, após atritos com o atual CEO em temas relacionados a preços de combustíveis e caminhoneiros.
“A Fitch entende que qualquer potencial mudança na política de preços da Petrobras que desvie da paridade de importação, como já ocorreu anteriormente, provavelmente colocaria em risco a esperada recuperação do setor de etanol”, disse a agência em comunicado.
O etanol concorre com a gasolina nas bombas dos postos de combustíveis brasileiros.
A Fitch destacou que, quando os preços do combustível fóssil caem, a competitividade do biocombustível como substituto da gasolina também diminui.
A agência acredita que produtores de etanol de milho, como a FS Agrisolutions, seriam os mais afetados por uma alteração na política de preços da Petrobras.
Companhias de cana mais expostas ao açúcar como Jalles Machado, Quatá e Usina Santo Angelo também poderiam ser atingidas, mas seus ratings já embutem essa exposição, disse a Fitch.
Raízen joint venture de Shell e Cosan e Biosev, cujos ratings já estão em observação devido à compra da Biosev pela Cosan, teriam a geração de fluxo de caixa pressionadas por uma possível mudança.
“A manutenção da atual política de paridade de importação da Petrobras é importante para a recuperação do setor doméstico de etanol em 2021”, afirmou a Fitch, destacando que o segmento foi afetado pela queda de demanda em meio à pandemia de coronavírus.
A paridade de importação, que hoje é levada em conta para a precificação da gasolina e diesel nas refinarias da Petrobras, possui influência de fatores como o valor do petróleo no mercado internacional e a cotação do dólar.