Risco Lula: tombo da Bolsa mostra que medo do mercado é real
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é um cadáver político, nem um cachorro morto para o mercado. A maior prova foi a queda de 1,98% no Ibovespa nesta sexta-feira (8), e a alta de 1,86% do dólar.
É verdade que o presidente norte-americano, Donald Trump, ajudou a azedar o humor, ao afirmar que não concordou com o fim da guerra comercial com a China, mas o gráfico do Ibovespa mostrou uma nítida queda do índice no meio da tarde – coincidente com a notícia de que a Justiça Federal de Curitiba havia determinado a soltura do petista.
Para a Guide Investimentos, a saída de Lula da prisão incomoda por dois motivos. O primeiro é o aumento da sensação de insegurança jurídica. O segundo é a força política do petista.
“No pano de fundo, ainda há preocupação de que o ex-presidente consiga unificar os partidos de oposição para fazer uma afronta ao progresso das reformas estruturais tão necessárias para executar o saneamento das contas públicas brasileiras”, afirmou a instituição, em relatório.
Radicalização
Mais cedo, a MCM também destacou o risco de polarização. Para a consultoria, Lula deve adotar uma estratégia dividida.
De um lado, de olho na repercussão na mídia, o ex-presidente deve “adotar um discurso nitidamente de esquerda e mais radicalizado, mas não a ponto de incentivar ações violentas de seus seguidores ou de movimentos a favor do impeachment de Bolsonaro. Por certo, será pródigo em críticas e ataques ao governo Bolsonaro, a Sérgio Moro e à Lava Jato.”
De outro, contudo, o petista deve tentar reconstruir suas pontes com os partidos de esquerda e de centro-esquerda. A MCM ressalta que Lula continua inelegível e, portanto, não poderá se candidatar a nada, mas, se continuar livre, se tornará um grande cabo eleitoral nas eleições municipais do ano que vem.
Além disso, os investidores temem que haja uma radicalização da divisão do país entre bolsonaristas e petistas. No limite, essa polarização pode atrapalhar a governabilidade e o dia a dia do Congresso.
“Se o enfrentamento entre os dois polos convulsionar de fato o ambiente político poderá causar danos à governabilidade política e até atrapalhar a atuação rotineira do Congresso. Somente nesse caso mais extremo, a soltura de Lula será um obstáculo à tramitação do pacote fiscal pós previdência”, afirmou a MCM.
À Reuters, o analista Régis Chinchila, da Terra Investimentos, afirmou que a decisão do STF trouxe insegurança jurídica e potencial instabilidade política futura, que, segundo ele, são dois assuntos que preocupam os investidores.