Risco fiscal vai atrapalhar a Selic? Três pontos que o Banco Central deve avaliar antes de reduzir os juros
Nesta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne para definir o futuro da Selic. A expectativa do mercado é de que o Banco Central mantenha o ritmo de cortes da taxa básica de juros, de 0,50 ponto percentual. Com isso, a Selic passa de 12,75% para o patamar de 12,25% ao ano.
O Santander destaca que, no início do atual ciclo de flexibilização, o Copom sinalizou sua intenção unânime de manter uma “velocidade de cruzeiro” de cortes de 0,50 pp nas próximas reuniões e seguir com este “plano de voo”.
“Esperamos que o Copom mantenha o ritmo sinalizado e entregue o corte de 0,50 p.p. em sua próxima reunião, marcada para quarta-feira (1º de novembro de 2023), reduzindo a taxa Selic para 12,25%. Essa projeção está em linha tanto com o consenso dos analistas quanto com o precificado pelo mercado na curva de juros”, diz o relatório.
No entanto, os economistas destacam que a autoridade monetária pode repensar os cortes, dependendo das expectativas de inflação e risco fiscal.
No Relatório Focus desta segunda-feira (30), registou uma alta nas projeções para a Selic de 2024 e 2025. “Chamo atenção desta elevação uma vez que venho há meses alertando que a perspectiva de Selic em 9% para o ano que vem me parecia exagerada para baixo. E, neste sentido, mantenho minha perspectiva da taxa básica terminar o ciclo de cortes em 10,75%”, afirma o economista André Perfeito.
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Três pontos que o Banco Central vai avaliar para continuar cortes na Selic
Internacional
O cenário internacional se deteriorou muito rápido desde a última reunião do Banco Central, em setembro. O principal evento que preocupa e traz incertezas é a guerra entre Israel e Hamas. O conflito elevou os preços do petróleo e corre o risco de se espalhar pela região do Oriente Médio. E o mercado ainda aguarda o desenrolar da guerra para entender o seu real impacto na commodity e na inflação global.
Além disso, a autoridade monetária brasileira está sempre de olho no Federal Reserve. Primeiro, porque a taxa de juros lá nos Estados Unidos acaba impactando a economia aqui no Brasil, já que os investidores estrangeiros tendem a virar às costas para países em desenvolvimento quando os juros estão altos em países desenvolvidos.
Basicamente, investir em um lugar com juros altos e que paga em dólar é mais atrativo que colocar o dinheiro em um país emergente. Além disso, mudanças nos juros lá nos Estados Unidos impactam diretamente o dólar por aqui. Quando os investidores se voltam para o EUA, a tendência é de que o dólar se fortaleça, e câmbio mais alto é sinônimo de inflação do lado das importações e produção.
Também está no radar os rendimentos dos Treasuries, títulos emitidos pelo Tesouro americano, que atingiram os maiores patamares em 16 anos.
Inflação
Neste ano, a inflação está dando uma ajuda para a queda dos juros. O Goldman Sachs destaca que as expectativas de inflação para o final de 2023 estão abaixo do teto da meta de 3,25%, sendo que o máximo seria 4,75%.
No entanto, para os próximos anos, os preços voltam a pressionar. “Para o final de 2024, as expectativas de inflação aumentaram 3 pontos-base e estão agora 90 pontos-base acima da meta e para 2025/26 permanecem estagnadas 50 pontos-base acima do ponto médio de 3% da meta de inflação. Isso provavelmente reflete a expectativa de que o governo não cumprirá as metas fiscais anunciadas, está inclinado a acomodar a inflação acima da meta e que as próximas mudanças na composição do Copom poderão torná-lo mais pacífico”, diz o relatório.
Fiscal
Na sexta-feira (27), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “dificilmente” o governo chegará à meta fiscal de zerar o déficit público em 2024. Lula disse que vai fazer o que puder para cumprir com a meta estabelecida no arcabouço fiscal, mas que não quer começar o ano que vem fazendo cortes de bilhões de reais em investimentos e obras.
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“Tudo que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal a gente vai fazer. O que eu posso dizer é que ela não precisa ser zero, a gente não precisa disso. Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias para este país”, disse.
Lula ainda afirmou que “o mercado é ganancioso” e que fica cobrando uma meta que acredita que vai ser realmente cumprida. Ele também destacou que não é um problema se o Brasil tiver déficit de 0,5% ou 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB).
“Se a pauta econômica perder tração no Congresso, conforme últimas declarações de Lula, o Governo deverá enfrentar duro debate sobre o nível da mudança na meta, com risco de desancoragem de expectativas que podem prejudicar o Banco Central no ciclo de redução de juros”, afirma Rafael Passos, analista da Ajax Asset.