Risco fiscal: Falas de Lula geram incerteza crucial sobre arcabouço; veja o que dizem os economistas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva jogou uma bomba no mercado nesta sexta-feira (27) ao declarar que “dificilmente” o governo vai conseguir atingir a meta do arcabouço fiscal de zerar o déficit público em 2024.
Durante um encontro realizado com a imprensa, Lula disse que vai fazer o que puder para cumprir com a meta estabelecida no arcabouço fiscal, mas que não quer começar o ano que vem fazendo cortes de bilhões de reais em investimentos e obras.
“Tudo que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal a gente vai fazer. O que eu posso dizer é que ela não precisa ser zero, a gente não precisa disso. Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias para este país”, disse.
Mercado reage mal à fala de Lula
O Ibovespa (IBOV), que passava o dia sem direção definida, firmou queda após a fala de Lula. Por volta das 15h24, o principal índice da Bolsa recuava 1,59%, aos 112.957 mil pontos.
Os economistas destacam que a declaração gera desconfianças e coloca em cheque todo o trabalho do Ministério da Fazenda.
Carlos Kawall, sócio-fundador da Oriz Partners, afirma que, no fundo, o presidente disse que o arcabouço fiscal não vale de nada e que ele parece preferir mudar a meta do que fazer contingenciamento. “As falas são desrespeitosas com trabalho de Haddad para zerar déficit”, aponta.
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Já Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, diz que a declaração pega mal para a percepção de risco no Brasil e lembra que não foi o mercado que determinou a meta, mas sim a equipe econômica com o aval do próprio Lula.
Em sua fala, o presidente aproveitou para alfinetar o mercado, ao dizer que “o mercado é ganancioso” e que fica cobrando uma meta que acredita que vai ser realmente cumprida. Ele também destacou que não é um problema se o Brasil tiver déficit de 0,5% ou 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB).
“Quando ele diz que se tiver déficit de 0,5% ou 0,25% não é nada, sabemos que não é verdade”, destaca Cruz.
Silvio Campos Neto, analista na Tendências Consultoria, avalia que as falas elevam a desconfiança que já existia e põem uma incerteza crucial na amarra colocada no arcabouço.
Por fim, Felipe Salto, economista-chefe da Warren Rena, lembra que a fala de hoje não é novidade para ninguém. “Apenas reforça o discurso de preservação de investimentos públicos, em linha com as diretrizes do atual governo”, diz.
Entenda a meta fiscal
Quando anunciou o projeto do arcabouço fiscal, o ministro Fernando Haddad se comprometeu a zerar o déficit público já no ano de 2024. Além disso, a projeção é de superávit nos anos seguintes.
No entanto, para atingir a meta, a equipe econômica precisa aumentar a arrecadação da União. Nesta semana, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de taxação de fundos offshore e exclusivos, mas outros textos importantes para a Fazenda estão em análise.
*Com informações do BDM e Reuters