Risco de destravamento da cana pelas chuvas está chegando perto do limite para a safra 21/22
Como a cana do fim desta safra, a cana do ano que vem está sofrendo com a seca e, nas últimas semanas, altas temperaturas. O desenvolvimento está travado de uma maneira geral na maioria das regiões produtoras do Sudeste, sob ameaça suplementar das pragas, e a contagem regressiva para a reversão começa a rodar a partir do começo de outubro
Cultura resistente, que deslancha rápida dependendo de chuvas regulares de primavera-verão e dias mais longos de insolação, tem boa capacidade de recuperação fisiológica, mas está no limite. Desse modo, condições claras da safra 21/22 são interrogações, ainda levando em conta as diferenças de solos e os períodos de plantio e cortes em 2020.
No entorno de Lençóis Paulista, no centro de São Paulo, cana nova, plantada na renovação em fevereiro/março, não passa da altura do joelho, com desenvolvimento visivelmente abaixo do perfil normal, segundo Luiz Carlos Dalben, da Ascana, entidade cujos associados detêm em torno de 120 mil hectares.
E a socaria, cana do segundo corte para cima, atravessa dificuldades com a baixa umidade, especialmente a colhida entre abril e maio, que poderia estar com dois ou três colmos, ou até 70 centímetros (independente da população de colmos), porque a falta de umidade do solo não ajuda na adubação. Dalben acredita que alguma produtividade vai ser comprometida, mesmo com as águas aparecendo.
Soqueiras resistiram
Na região de Jaú, o engenheiro agrônomo da Associana, Denilson Vitti, onde os 40 mil hectares dos produtores estão com apenas 734 mm de chuvas em 2020, acredita que alguma cana-planta (nova) acabará tendo que ser replantada, o que acarreta custos adicionais. A região apresenta 10% de renovação na safra atual.
Quanto aos canaviais mais antigos, a situação só não é pior porque não houve morte das soqueiras. Umas poucas chuvas de 40 mm em agosto as salvaram, o que mostra o poder de recuperação da cana de açúcar.
Sérgio Gustavo Castro, pesquisador e produtor no grupo familiar AgroQuatro-S, com propriedade perto de Ribeirão Preto, também concorda com as condições gerais expressadas acima, acentuando também os riscos maiores para as lavouras plantadas este ano. “Sentindo o travamento do desenvolvimento, apresentando mais folhas secas que verdes, e com bastante comprometimento futuro”, explica.
Em outros cenários, a cana cortada no início da safra ainda consegue passar a seca atual, mas as condições fisiológicas da planta colhida em julho e agosto também carrega um bom potencial de prejuízo pela dificuldade de brotação, a menos que as chuvas venham em boas condições de outubro em diante, explica Castro.
Mas como o tipo de solo também influencia, Luís Henrique Scabello, presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Araraquara (Canasol), lembra que nos solos argilosos a brota da cana já cortada está mais comprometida. Nos solos mais leves, arenosos, o produtor acredita em perfil normalizado.
Todos igualmente destacam o ataque de pragas, sobretudo da lagarta elasmo. Até que as precipitações não cheguem, elas vão comendo o “coração” da planta germinada.
Scabello chama a atenção para o risco de diminuição dos stands (quantidade de cana por m2) se o quadro climático não for revertido o quanto antes.
Mato-competição
O consultor Anibal de Almeida Prado, de Jaú, explica ainda que em incêndios em canaviais de cana colhida torna o ataque da lagarta mais severo.
E pontua outa ameaça, a do mato-competição: “Isso vai exigir uma atenção especial no que se refere ao controle de mato, pois o residual dos herbicidas deve terminar com lavoura ainda sem devido fechamento de entrelinhas”, traduz.
Pelos lados do Oeste paulista, na região de Valparaíso, o presidente da AFCOP, Apolinário Pereira da Silva Jr., ainda não notou estragos significativos, apesar de ser uma região mais quente.
Como de outubro a março é o período no qual a cana ganha massa vegetal, de 70 a 75%, recorda Almeida Prado, onde as condições gerais não estão tão complicadas, como no caso observado por Pereira da Silva, o temor de prejuízos mais marcantes em produtividade e produção é mais dissipado.
No Triângulo Mineiro, os associados da CanaCampo, englobando 62 mil hectares e renovação de canaviais da ordem de 12 a 13% por safra, mas nesta um pouco menos, “se a gente olhar no visual, a gente vê um certo sofrimento, mas as chuvas retornando, normalmente, a cana vai embora e vai cumprir seu ciclo”, afirma Rodrigo Piau, coordenador agronômico da entidade.
“Por isso, projetar algo para a safra que vem em função deste período, que é caracterizado por poucas chuvas mesmo, é muito prematuro”, complementa Ricardo Pinto, CEO da RPA Consultoria.