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Risco de crise hídrica cresce; quais ações não ter neste momento e quais ter?

28 maio 2021, 19:55 - atualizado em 28 maio 2021, 19:55
Atualmente, os reservatórios estão em em 32% da capacidade total na região Sudeste  (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

O risco de uma crise hídrica está batendo à porta no Brasil.

Na noite da última quinta, o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu o primeiro Alerta de Emergência Hídrica para o período de junho a setembro, na região da Bacia do Paraná, que abrange os estados de Minas GeraisGoiásMato Grosso do SulSão Paulo e Paraná.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) também orientou a redução do despacho obrigatório de reservatórios hidrelétricos para fins ambientais e de irrigação.

O objetivo é segurar os reservatórios com o mínimo de capacidade (10%) para evitar o racionamento de energia até o período de chuvas em dezembro.

Atualmente, os reservatórios estão em 32% da capacidade total na região Sudeste (que responde por 70% da capacidade total no Brasil), o que reflete a pior estação chuvosa para o período de outubro de 2020 a maio de 2021 desde 1931.

Além disso, a demanda por eletricidade no Brasil se recuperou, atingindo 67 gigawatts (GW) – em linha com os níveis pré-Covid em 2019 -, ante os 60 GW em 2020.

A Ágora Investimentos lembra que em 2015 o risco de racionamento era alto, mas no final das contas não aconteceu.

“Enquanto os reservatórios estão baixos, as chuvas estão abaixo da média e a demanda por eletricidade aumentou, tal medida por parte dos reguladores deve ser o último recurso. O cenário base, por enquanto, não deve ser nenhum racionamento oficial em 2021”, apontam os analistas Francisco Navarrete e Ricardo França.

Olhando para além para 2022 as hidrelétricas também estão começando a comprar suprimentos para mitigar o GSF (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Preços nas alturas

Com a oferta reduzida, os preços do spot da eletricidade, atualmente em R$ 244 por MWh (megawatt-hora), provavelmente se moverão perto do teto de R$ 580 por MWh na maior parte do segundo semestre.

“Sabemos, por exemplo, que esta semana as distribuidoras venderam 1 GW de capacidade comprada excedente no mercado não regulado com algumas geradoras comprando suprimentos pagando R$ 450-460/ MWh (até 3 semanas atrás, os preços estavam próximos a R$ 350 por MWh)”, afirmam.

Olhando para além de 2022, as hidrelétricas também estão começando a comprar suprimentos para mitigar o GSF, que mede o risco hidrológico, exigido, pagando R$ 280 por MWh.

E quais ações não ter (e quais ter)?

Diante desse quadro, as empresas mais prejudicadas devem ser as geradoras, como CESP (CESP6) (totalmente exposta à hidro), AES Brasil (AESB3), mas que tem cerca de 40% do Ebitda proveniente da geração eólica, Engie (EGIE3) (30% da capacidade de geração é térmica e eólica, além de ter um negócio de transporte de gás mais transmissão greenfield), e as concessionárias integradas Cemig (CMIG4), Copel (CPLE6) e Light (LIGT3).

No caso das distribuidoras, os custos maiores provocados pelas usinas térmicas devem ser passados para o consumidor.

Porém, isso não é suficiente, uma vez que elas podem enfrentar pressão de capital de giro, tendo que esperar até seu próximo ajuste tarifário anual para repassar ou recuperar os custos mais elevados.

Por outro lado, a Ágora destaca que as geradoras Omega (OMGE3) (energia eólica) e Eneva (ENEV3) (térmica) devem se beneficiar.

Já a Ativa lembra que empresas de transmissão, como Taesa (TAEE11) e Transmissão Paulista (TRPL4), apresentariam os menores impactos, por possuírem contratos de longo prazo corrigidos por índices inflacionários.

Chuva
Até agora o patinho feio tem sido a região Sul, com chuvas a 23% da média histórica em maio(Imagem: REUTERS/Nacho Doce)

E agora, José? Torça para chover

De acordo com a Ágora, para evitar uma piora do cenário, o governo poderia implementar uma campanha voluntária de economia no consumo de eletricidade.

“Em casos anteriores, as indústrias foram solicitadas a cooperar, reduzindo o consumo de eletricidade tanto quanto possível, ou concentrando as operações e demanda durante os períodos noturnos nos quais, por exemplo, a geração de energia eólica é maior”, afirma.

E claro, torcer para chover. Até agora, o patinho feio tem sido a região Sul, com chuvas a 23% da média em maio, mas que historicamente é conhecida por sua alta volatilidade de precipitação.

“Assumindo que as chuvas no Sudeste e no Sul cheguem a 70% da média histórica até novembro, os reservatórios do Sudeste cairiam para níveis ainda aceitáveis de 10% / 14%”, observam Navarrete e França.

Porém, se chover no Sul só 40% da média histórica (mantendo 70% no Sudeste), os reservatórios da região cairiam abaixo dos 10% mínimos necessários para manter o controle operacional do sistema, alertam.

Agora, resta saber quais medidas as empresa tomarão para mitigar os riscos.

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