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Risco de commodities para ESG é muito alto para ser ignorado

13 fev 2023, 12:27 - atualizado em 13 fev 2023, 12:28
ESG
Matthews disse que as mineradoras desempenham claramente um papel essencial na transição para uma economia mais verde, portanto, excluí-las dos portfólios não é sustentável para investidores ESG (Imagem: Reuters/David Gray)

O lado obscuro do investimento com padrões ambientais, sociais e de governança (ESG) poderia afetar toda uma geração de estratégias de tecnologia limpa.

Adam Matthews, diretor de investimento responsável do Church of England Pensions Board, disse que os riscos trazidos pela indústria de mineração ao “boom” das energias renováveis não têm recebido atenção suficiente.

O resultado, de acordo com Matthews, 47, é que portfólios destinados a defender os princípios ESG podem acabar expostos a abusos dos direitos humanos e danos ambientais por meio das cadeias de suprimentos.

É uma questão que levou Matthews e outros investidores a formarem recentemente uma aliança, com o objetivo de chamar a atenção para o tema e tornar muito mais difícil para gestores de fundos alegarem ignorância.

A Comissão Global de Investidores sobre Mineração 2030, que é assessorada pelas Nações Unidas, planeja expor e combater o que chama de riscos sistêmicos decorrentes do vínculo entre a mineração e a indústria de energia limpa.

“O setor automotivo está amplamente exposto, assim como fabricantes de turbinas eólicas”, disse Matthews em entrevista. Há também uma “enorme demanda” por minerais como cobre e lítio, que são “extremamente importantes para a tecnologia de baixo carbono”.

Mas “não devemos ter ilusões” sobre o fato de que esses minerais e metais geralmente vêm de áreas nas quais “estruturas instáveis de governos” são a norma, e onde a dinâmica em torno da mineração “desempenha um papel no conflito”, destacou. A expansão das energias renováveis em andamento corre o risco de “inflamar e exacerbar” essa instabilidade, acrescentou.

“Temos algumas empresas com boas práticas, mas isso não é representativo de todo o setor”, disse Matthews, sem querer destacar nomear companhias.

Analistas da BloombergNEF estimam que o caminho para zerar as emissões líquidas de carbono pode exigir a extração de 5,2 bilhões de toneladas de metais até 2050, o equivalente a US$ 10 trilhões.

Algumas empresas tentam reduzir sua exposição a riscos buscando maneiras de se desviar das matérias-primas ou assumindo o controle direto das linhas de suprimento.

A Tesla trabalha em um novo design de baterias para evitar usar cobalto e o níquel.

A General Motors investiu recentemente US$ 650 milhões na Lithium Americas, que desenvolve uma mina em Nevada.

Enquanto isso, na América do Sul, a mineração teve um impacto devastador na população da região. Em 2019, o rompimento de uma barragem de resíduos em uma mina de minério de ferro da Vale, em Brumadinho, matou 270 pessoas.

A Vale posteriormente fechou um acordo para pagar US$ 7 bilhões ao estado de Minas Gerais, que serão usados em programas socioeconômicos e ambientais para reparar os danos causados pelo rompimento da barragem.

A China, que é o maior refinador mundial de minerais e metais necessários para as baterias, depende do carvão para abastecer as usinas que fazem esse trabalho. E empresas de carvão como a Thungela Resources até tentaram enquadrar o combustível fóssil mais poluente como um ingrediente essencial no “boom” das energias renováveis.

Matthews disse que as mineradoras desempenham claramente um papel essencial na transição para uma economia mais verde, portanto, excluí-las dos portfólios não é sustentável para investidores ESG. Às vezes, no entanto, não há escolha, e o Church of England Pensions Board zerou sua participação na Vale quando o impacto do colapso da barragem de 2019 ficou claro, além de liderar uma campanha para melhorar a segurança nas minas.

O objetivo é expor e isolar companhias com práticas irregulares e aplicar padrões muito mais elevados de responsabilidade à medida que o peso da mineração na transição verde cresce.

Embora “precisemos de mineração”, o processo de extração de matérias-primas para a revolução das energias renováveis não pode ser “uma corrida louca para atender às demandas onde não há consulta à comunidade”, disse Matthews. Caso contrário, a indústria “perderá a licença social” para continuar seu trabalho, afirmou.