Economia

Rio Bravo: BC deve aguardar eleição para subir juros, apesar de alta do dólar

29 ago 2018, 19:21 - atualizado em 29 ago 2018, 19:21

Por Arena do Pavini – Apesar da alta do dólar, que atingiu o segundo maior nível do Plano Real e pode pressionar a inflação no médio prazo e ameaçar a meta de 4,25% do ano que vem, o Banco Central (BC) deve aguardar a definição da eleição presidencial para subir ou não os juros, hoje em 6,5% ao ano, acredita Evandro Buccini, economista-chefe da gestora Rio Bravo Investimentos.

Para ele, a economia fraca pode jogar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano para perto de 1% e há o risco de o desemprego subir ainda mais. E, dependendo do cenário eleitoral, o dólar que hoje está em R$ 4,14 no mercado comercial pode ir para R$ 4,50 ou para R$ 3,60, acelerando ou adiando a alta dos juros.

Economia fraca segura inflação

Buccini vê a inflação deste ano estável no patamar atual, encerrando 2018 perto de 3,90%. “Houve pressão por conta da greve dos caminhoneiros e do dólar, mas a inflação segue confortável e até com algumas surpresas para baixo”, diz. O repasse da alta do dólar para os preços foi baixo pela fraqueza da economia, que sofreu também com a greve. “As notícias sobre o PIB não são boas, a greve veio perturbar e agora melhorou um pouco, mas a ociosidade ainda é alta e julho parece que não foi tão bom”, diz.

PIB zero no 2º tri e desemprego piorando

Ele estima que o PIB do segundo trimestre terá crescimento perto de zero, o que exigirá uma recuperação maior no segundo semestre. “Se a economia ficar estável no segundo semestre, provavelmente vamos rever nossa estimativa de crescimento do PIB para o ano, hoje de 1,6%, para mais perto de 1%”, diz. E mesmo para chegar a 1% vai ser preciso um crescimento de pelo menos 0,6% no segundo semestre do ano. “Vamos precisar de um gás maior neste semestre”, afirma Buccini.

Com isso, o cenário para o desemprego “não é nada bom”, lembrando que até agora a recuperação que ocorreu foi com empregos informais. “Há o risco de o desemprego voltar a subir, pelo efeito da sazonalidade e pela redução da força de trabalho”, diz.

BC não mexe nos juros antes da eleição

Sobre a alta dos juros que parte do mercado estima, Buccini acredita que só será possível discutir esse cenário com clareza no ano que vem, quando estiver definido o que vai acontecer com o próximo governo e com o ajuste fiscal. “Para o ano que vem, temos de trabalhar com dois cenários, um bom e um ruim, por isso não dá para saber o que vai acontecer, vamos ter muita volatilidade pela frente”, afirma. “Mas o BC não deve mexer nos juros antes da eleição”, avalia o economista. Segundo Buccini, por mais que tenha deixado explícito que ele pode mudar de visão, o BC deve dar um sinal antes aos mercados, apesar de eles já precificarem um aumento da Selic para 6,75%. “E o BC está muito quieto, bem fora do mercado.”

Expectativa de juro estável apesar de alta nas projeções de inflação

O cenário mais provável, porém, é que não haverá necessidade de aumento de juros, acredita Buccini. A desvalorização atual do real diante do dólar é relevante, mas se justifica pela incerteza politica e pela ascensão do PT nas pesquisas, com chance de o partido, crítico das reformas fiscal, trabalhista e da Previdência, obter uma vaga no segundo turno. Mas essa alta do dólar deve afetar as projeções do Banco Central para a inflação do ano que vem. “Na última semana de setembro, o próximo relatório trimestral de inflação do BC já vai trazer uma projeção acima da meta de 4,25% para 2019”, diz.

Antes disso, porém, o Comitê de Política Monetária (Copom) na reunião dos dias 18 e 19 de setembro, já deve dar uma indicação de expectativa de IPCA acima da meta no comunicado que acompanhará a decisão sobre os juros.

Reunião de outubro do Copom será depois da eleição

Depois da reunião de setembro, o encontro seguinte do Copom será em 30 e 31 de outubro, depois do segundo turno, marcado para 28 de outubro, ou seja, já com o futuro presidente do país eleito, o que abrirá espaço para uma decisão mais segura. Mas mesmo assim o BC pode optar por adiar uma mudança nos juros. “Há dúvidas não só sobre a política econômica do próximo presidente como também sobre como será a atuação e o papel do BC”, diz Buccini. “Não se sabe também se o BC atual vai consultar o próximo presidente eleito ou se vai apenas informar o que está sendo feito”, afirma.

Buccini lembra que a equipe econômica foi o grande trunfo do governo de Michel Temer para estabilizar a crise após o impeachment da presidente Dilma Rousseff. E o atual presidente do BC, Ilan Goldfajn, teve muito sucesso ao conduzir a política de juros e o controle da inflação. “Por isso, temos muitas variáveis que podem influenciar os juros no futuro, a começar com quem vai ser o presidente do BC no governo de quem ganhar”, afirma. “Mas parece cedo para isso.” Após outubro, a próxima reunião do Copom será em 11 e 12 de dezembro e será a última do governo Temer.

BC tem espaço reduzido para atuar

Para Buccini, o BC vem atuando bem no cenário atual, evitando intervir nos mercados. “As perspectivas se deterioram e não há o que fazer, apenas se houver desequilíbrios, o BC pode atuar, mas por enquanto a alta do dólar e dos juros está sendo justificada pelo cenário interno de incerteza”, diz.

Cenário eleitoral difícil dificulta gestão

O cenário da eleição também está muito difícil, e vai ficar assim até segundo turno, pela força do candidato Jair Bolsonaro, do PSL, pela incerteza com a transferência de votos do ex-presidente Lula para seu vice, Fernando Haddad, pela falta de movimento do ex-governador Geraldo Alckmin, do PSDB e pela força de votos de Marina Silva, da Rede. “São quatro nomes viáveis para o segundo turno”, diz.

Se o segundo turno tiver Bolsonaro e um outro candidato que não Haddad, a reação do mercado deve ser positiva, com o dólar parando de subir ou até caindo e os juros podem ficar estáveis até o fim do ano que vem em 6,5%, ou subir um pouco apenas.

Já em um cenário com chance de vitória de um candidato do PT, o dólar pode subir mais, o que levaria o BC a puxar os juros mais cedo este ano, chegando a 9% em meados no ano que vem.

Dólar entre R$ 3,50 e R$ 4,50

O dólar, por sua vez, tem espaço para subir mais se as pesquisas continuarem mostrando chances de vitória de um candidato contrário às reformas fiscais. “E além disso, temos um piso para o dólar que é dado pelo cenário externo”, afirma Buccini. Ele estima que, no fim do ano, se um candidato a favor das reformas, como Alckmin, ganhar, o dólar poderia recuar, para R$ 3,50 ou R$ 3,60. Já se Haddad, do PT, que critica o ajuste fiscal e maior intervenção na economia, vencer, o dólar pode ir facilmente para R$ 4,50. No caso de Bolsonaro, que não passa muita segurança para o mercado se será capaz de fazer os ajustes, o dólar ficaria em torno de R$ 3,80.

Prêmio nas taxas de juros longas

Sobre a gestão de recursos nesse ambiente de incerteza, Buccini diz que a Rio Bravo diminuiu o risco das carteiras, mas continuam apostando que as taxas de juros mais longas projetadas pelo mercado hoje são exageradas e o prêmio de risco deve aparecer nesse momento. “Estamos explorando esses exageros, mas nos prazos mais curtos, nos quais o risco é menor”, diz. No dólar e na bolsa, a gestora está investindo apenas no curtíssimo prazo, com valores menores do que tinha antes do processo eleitoral.

A gestora também acompanha o mercado de fundos imobiliários, que vem apresentando algumas ofertas interessantes, diz o economista.