Economia

Ricos dobram demanda por crédito em busca por liquidez no Brasil e Itaú atende

28 abr 2020, 7:44 - atualizado em 28 abr 2020, 7:56
Itaú
No caso do Itaú, o volume de crédito mais do que dobrou em relação ao ano anterior, segundo Luiz Severiano, chefe de private banking global (Imagem: Rafael Borges/MoneyTimes

Os indivíduos mais ricos do Brasil dobraram o volume de crédito tomado dos bancos para fazer frente a chamadas de margem após verem derreter o valor das garantias de seus empréstimos em meio à pandemia do coronavírus.

O Itaú Unibanco Holding SA, (ITUB4) o maior gestor de fortunas do país, e a XP aumentaram as cartas de crédito para seus clientes ricos nas últimas semanas, usando fundos de investimento ou outros ativos como garantia.

No caso do Itaú, o volume de crédito mais do que dobrou em relação ao ano anterior, segundo Luiz Severiano, chefe de private banking global.

“Em uma crise de mercado aguda e profunda, você precisa ser rápido em ajudar seus clientes alavancados em busca de liquidez”, disse Severiano em entrevista, acrescentando que a decisão do governo de isentar empréstimos de impostos de até 3,38% por 90 dias também ajudou a aumentar o volume de crédito.

Os brasileiros ricos costumam contrair empréstimos, muitos deles denominados em dólares, usando garantias como ações nos mercados locais.

Com a alta no dólar e tombo na Bolsa, as garantias perderam muito de seu valor e os bancos passaram a pedir mais colaterais. Alguns clientes que não conseguiram liquidez viram suas garantias serem executadas.

David Neeleman, proprietário da companhia aérea Azul SA, é apenas um exemplo das armadilhas da alavancagem durante a pandemia.

Neeleman teve que vender 80% de sua participação sem direito a voto na empresa, ou 9,3 milhões de ações, para pagar um empréstimo de US$ 30 milhões, de acordo com um documento apresentado em 14 de abril.

Em um sinal de que o Citigroup Inc. poderia ser um dos credores de Neeleman, a corretora do banco vendeu 9,7 milhões de ações da Azul entre 12 e 18 de março, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

O Citigroup, que também era um dos principais bancos na oferta pública inicial da Azul, não quis comentar. Neeleman não quis comentar quais seriam os bancos credores no empréstimo.

Os bancos locais viram uma oportunidade. A XP, a maior corretora do Brasil em volume de negociação de ações, abriu um banco que oferece um novo produto de empréstimo com juros baixos: os indivíduos podem tomar crédito e usar como garantia o dinheiro em fundos de investimento que têm prazos de resgate não-imediato.

“Enquanto observamos alguns bancos tentando desalavancar, estamos tentando fazer exatamente o oposto, pois temos muito espaço em nosso balanço”, disse Beny Podlubny, chefe de private banking da XP, em entrevista.

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O apetite por empréstimos da XP está ajudando a atrair negócios dos concorrentes, disse Podlubny, incluindo os chamados fundos exclusivos de indivíduos, uma ferramenta comum no Brasil que os ricos usam para aplicar seu dinheiro e aproveitar benefícios fiscais. A XP também está ganhando mais negócios de custódia de ações e títulos, disse ele.

No Itaú, “temos uma visão melhor dos ativos locais dos clientes do que os bancos globais, e isso nos permite agir mais rapidamente”, disse Severiano. O Itaú possui cerca de R$ 500 bilhões em fortunas sob gestão e atende cerca de 8.000 famílias.

O apetite por empréstimos da XP está ajudando a atrair negócios dos concorrentes, disse Podlubny (Imagem: XP Inc/Linkedin)

Os ativos brasileiros foram particularmente atingidos durante a crise, com o real registrando o pior desempenho em relação ao dólar este ano entre as principais moedas do mundo, recuando 28% à medida que investidores estrangeiros fugiam do Brasil. O índice de ações de referência do país caiu 33% em 2020.

O total de fortunas sob gestão no mercado local de private banking do Brasil era de R$ 1,32 trilhão em fevereiro, mesmo nível de dezembro, segundo a Anbima, a associação do mercado de capitais.

Os empréstimos para clientes ricos já estavam crescendo naquele momento, subindo 5,6% em relação a dezembro para R$ 42,5 bilhões, com as taxas de juros locais caindo para um nível recorde.

Outro efeito colateral da crise para a indústria de private banking: alguns clientes estão vendo a queda no valor do real como uma oportunidade de compra, de acordo com Renato Ejnisman, chefe global de private banking do Banco Bradesco SA.

“Existem até alguns clientes trazendo dinheiro de volta ao Brasil para investir em ações locais”, disse ele.