Ricardo Baraçal: Blockchain e o câmbio – a hora das fintechs
Uma das mais recentes inovações que vem revolucionado as relações entre pessoas, empresas e tecnologia – algo que muito se discute, mas ainda pouco se conhece – é o blockchain, criado pelo advento do bitcoin há apenas uma década atrás.
Falando de maneira conceitual, uma definição muito difundida de blockchain é: “sistema que permite a um grupo de participantes, pessoas e/ou empresas, transacionar uns com os outros de maneira segura, sem depender de um ente central ou de terceiros.”
Uma ruptura desta dimensão com o status quo naturalmente faz com que muitos voltem sua atenção para essa tecnologia e nos faz pensar que o blockchain pode ser muito mais do que apenas moedas criptografadas para diversos segmentos. De tudo que temos visto até agora, o setor financeiro e o de logística são os primeiros a entender o tamanho do impacto que essa tecnologia pode ter.
A tecnologia possui basicamente cinco características:
- Distribuição ao longo da rede – todos os dados são armazenados em vários computadores;
- Consenso – modificações na rede dependem de múltiplos processos e partes seguindo as regras do blockchain;
- Contratos inteligentes – programas executam funções automáticas e asseguram que todos estejam seguindo as mesmas regras;
- Criptografia – proteção completa à segurança dos dados;
- Imutabilidade – uma vez concluída uma transação, ela é armazenada na rede de forma definitiva e não pode ser apagada ou editada.
Por estas razões acima mencionadas, os negócios realizados através do blockchain acabam sendo transparentes para todos os seus participantes e isso torna os sistemas baseados por este sistema muito fortes.
Por essa razão, o interesse do mercado financeiro pelo assunto só vem crescendo. Muito pela capacidade de potencializar a confiança, segurança, eficiência e otimização de processos, além da melhoria da rastreabilidade, transparência e imutabilidade, gerando ganhos de eficiência e redução de custos.
Além disso, a possibilidade de integrar blockchain com outras tecnologias, como a inteligência artificial (IA) e a internet das coisas (IOT), pode levá-lo a inovações de impactos ainda não mensuráveis para toda a indústria.
Entrando rapidamente nos meandros do sistema, sabemos que em sua origem o bitcoin provou que, por meio da Distributed Ledger Technology (DLT), moedas e sistemas de pagamento podem existir de forma autônoma, sem um ente centralizador, fora do modelo de negócio tradicional do mercado financeiro e de uma supervisão regulatória. Isso praticamente neutraliza um ataque contundente a sistemas descentralizados.
De acordo com um recente relatório da Deloitte, os primeiros impactos do blockchain no mercado financeiro estarão relacionados a pagamentos internacionais, mercado de ações, compensação e liquidação das transações, além de compliance.
Aqui eu gostaria de acrescentar o câmbio e explico o porquê: o mercado de pagamentos internacionais encontra-se concentrado no SWIFT, uma rede de bancos que define e controla as regras de mensagens pelo qual as transações são hoje executadas.
Para um pagamento internacional via SWIFT, as instituições financeiras cobram até 10% do valor da transação em taxas e a confirmação da transação pode levar até cinco dias úteis.
Juntando esta informação ao início do bitcoin, ele começou como uma alternativa mais barata ao SWIFT, permitindo pagamentos internacionais quase instantâneos. Porém, a moeda faz parte de uma rede não projetada para múltiplas transações e, devido ao ganho de sua popularidade como um ativo em si – o chamado criptoativo – o bitcoin ficou sujeito à grande volatilidade, tal qual enxergamos hoje.
Portanto, é necessário unirmos as qualidades de instituições como o SWIFT, capazes de lidar com muitas transações, com a descentralização, transparência e eficiência trazida pelo blockchain. É daí que vem a necessidade de empregar esta tecnologia ao universo empresarial.
Vários desses esforços estão em andamento. Um exemplo desta aplicação está nas plataformas de remessas internacionais, que podem reduzir de maneira relevante os custos de transmissão de informação de câmbio, bem como riscos operacionais. Algumas fintechs “early adopters”, que acreditaram na tecnologia e desenvolveram o caminho mais rapidamente, iniciaram em 2018 a aplicação do blockchain baseada na Ripple, que permite pagamentos internacionais, com taxas insignificantes e confirmação quase instantânea.
Ripple é uma rede ponto-a-ponto descentralizada, que fornece um protocolo de pagamento digital para instituições financeiras. A rede permite ainda a transferência digital direta de dinheiro, se você deseja enviar fundos convencionais em dólares ou criptomoedas como bitcoin.
Para garantir transações perfeitas entre duas partes, a Ripple conta com um meio chamado gateway, que atua como um link de confiança para cada parte. Empresas e indivíduos podem se inscrever e iniciar um gateway para autorizá-los a agir como intermediários para concluir a troca.
Concluindo, o blockchain já está revolucionando o mercado financeiro, melhorando a rastreabilidade, transparência e imutabilidade, proporcionando confiança, segurança, eficiência e otimizando processos. E esta revolução já chegou ao câmbio, de maneira silenciosa, mas de forma a acelerar uma mudança drástica na precificação das operações em um curto espaço de tempo.